Sobre a matança infundada de lagartos: atestado de ignorância e criminalidade ambiental!

Caros leitores, minha postagem deste mês, mais uma vez, tem como objetivo maior contribuir para a conservação dos lagartos (Figura 01).

Figura 01. Indivíduo adulto do calango-de-parede (Tropidurus hispidus) em ambiente urbano de Fortaleza – Ceará. Fotografia de Daniel Passos.

Não é novidade que, em muitos lugares, lagartos são mortos inadvertidamente. Sabemos que a caça de lagartos para subsistência e a remoção de lagartos exóticos ocorrem legalmente em diversos países, entretanto estes não são os casos em questão. Refiro-me aqui à matança incoerente, sem fundamento plausível.

Em alguns casos a matança ocorre simplesmente por lazer, por exemplo, quando lagartos são caçados e mortos, em geral por crianças e jovens. O uso de estilingues, elásticos ou até mesmo pedradas infelizmente ainda é uma atividade, dita cultural, frequentemente exercida especialmente em áreas rurais.

Mas pior do que isso são aqueles casos em que os lagartos são mortos por pura falta de conhecimento da população. Ora, já vimos em postagens anteriores que não existem lagartos peçonhentos no Brasil (saiba mais em: Lagartos peçonhentos) e que, no geral, os lagartos geram bem mais benefícios aos seres humanos do que prejuízos (relembre: A importância dos lagartos para a Natureza, inclusive para o homem). Consequentemente, acredito que não há motivos plausíveis para consequências tão extremas como maus-tratos e principalmente a morte desses seres vivos.

Estou certo de que, assim como eu, muitos de vocês leitores já presenciaram algo como: uma dona de casa atacando o calango do muro do jardim com sua vassoura em punho, ou o vendedor da esquina prestes a lançar seu chinelo na lagartixa da parede do mercadinho, ou um garoto armado com seu estilingue e um saco plástico repleto de cadáveres escamados recém-abatidos, ou até mesmo o atropelamento intencional daquela iguana que termorregulava na pista perto da universidade. Enfim, eu poderia citar inúmeros outros casos!

E estes casos não são limitados ao nosso cotidiano particular. Não é difícil encontrar na Internet comentários, imagens e vídeos de registros como: “o massacre do calango”, “como matar uma lagartixa”, “atirando no calango”, e até mesmo na mídia em geral como em telenovelas e seriados. Um exemplo bem popular disso é o episódio “O caçador de lagartixas” do clássico seriado mexicano “O chaves” (Figura 02). Infelizmente muitas destas ferramentas midiáticas, mesmo que indiretamente, tendem a induzir e favorecer a continuação dessas práticas infundadas e criminosas.

Figura 02.  Cena do episódio “O caçador de lagartixas” da série mexicana “O Chaves”. Vídeo disponível com livre acesso na Internet.

Na minha opinião, isto é muito lamentável. Atestado da falta de conhecimento biológico básico de grande parte da nossa sociedade, bem como sua evidente indiferença perante às questões ambientais. Vale lembrar que matar espécimes da fauna silvestre sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, constitui crime contra a fauna segundo a Lei de Crimes Ambientais (lei 9.605 – 1998). Mas, apesar da legislação regulamentadora, a grande maioria destes casos permanece impune.

Mas então, qual o porquê deste hábito insensato continuar ocorrendo? Sinceramente, não sei . . . E é justamente por isso que procuro informar e incitar a reflexão dos leitores do blog. Chega de matança de calangos! Eles “agradecem” (Figura 03)!

Figura 03.  Indivíduo adulto de Tropidurus hispidus se aquecendo ao sol (termorregulando). Fotografia de Daniel Passos.

Por: Daniel Passos, membro do NUROF-UFC