Dando continuidade à série de postagens sobre os lagartos brasileiros, neste texto dissertamos sobre a famosa “Tijubina”, lagarto de beleza incondicional e agilidade impressionante que constitui um dos mais populares ícones herpetológicos no sertão da Caatinga.
As popularmente chamadas “Tijubinas” são lagartos do gênero Cnemidophorus (Família Teiidae) amplamente distribuídos na América do Sul, ocorrendo tipicamente em ambientes abertos (Caatinga, Cerrado, Campos Sulinos).
No Brasil, ocorrem atualmente 11 espécies de Cnemidophorus (Bernils (org), 2011) e, nos últimos anos, o número de espécies descritas para este Gênero têm crescido (Rocha et al, 2000; Dias et al, 2002; Colli et al, 2003; Arias et al, 2011).
Uma das espécies de “Tijubina” mais famosas na Caatinga é, sem dúvida, Cnemidophorus ocellifer. Esta espécie, de pequeno tamanho corpóreo (pode alcançar 25cm de comprimento total), apresenta cabeça afilada, longa cauda, membros fortes e padrão de coloração típico, com faixas dorsais longitudinais marrom-escuro sobre um fundo marrom-claro. Estas faixas dorsais e as porções laterais do corpo são repletas de pequenas manchas arredondadas verde-azuladas, denominadas ocelos (Figura 01).
Figura 01. Indivíduo adulto de uma “Tijubina” (Cnemidophorus ocellifer)
evidenciando os ocelos verdes-azulados na lateral do corpo. Fotografia de Daniel Passos.
Estes lagartos terrícolas são comumente vistos, durante as horas mais quentes do dia, desde os ambientes litorâneos até o sertão central nordestino, geralmente exibindo o marcante comportamento de forrageio ativo, caracterizado por breves deslocamentos rápidos e paradas frequentes, nos quais o lagarto tateia o substrato com sua língua bífida à procura de presas, em especial insetos.
Uma curiosidade interessante deste gênero de lagartos é que algumas espécies de Cnemidophorus não apresentam machos. É isso mesmo! As populações são representadas exclusivamente por fêmeas, que se reproduzem por partenogênese e, consequentemente, produzem somente descendentes fêmeas.
Outro fato curioso é que, embora “Tijubina” seja um nome popular para espécies recentes de lagartos (atualmente viventes), ao mesmo tempo, constitui um Gênero zoológico de um lagarto pré-histórico (Tijubina pontei) que viveu na Bacia do Araripe, na região nordeste do Brasil, no período Cretáceo, entre 145 milhões e 65 milhões de anos atrás (veja mais em: A origem e diversificação dos lagartos).
Por todo o exposto, espero que em seu próximo encontro com uma “Tijubina” você possa enxergar com “outros olhos” estes lagartos fascinantes e deleitar-se com sua beleza natural.
Por: Daniel Passos, membro do NUROF-UFC
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARIAS, F.; CARVALHO, C. M.; RODRIGUES, M. T.; ZAHER, H. Two new species of Cnemidophorus (Squamata: Teiidae) of the C. ocellifer group, from Bahia, Brazil. 2011. Zootaxa 3022: 1–21.
BONFIM-JUNIOR, F. C. & ROCHA-BARBOSA, O.. A paleoautoecologia de Tijubina pontei Bonfim-Junior & Marques, 1997 (Lepidosauria, Squamata Basal da Formação Santana, Aptiano da Bacia do Araripe, Cretáceo Inferior do Nordeste do Brasil). 2006. Anuário do Instituto de Geociências–UFRJ 29:54-65.
COLLI, G. R.; CALDWELL, J. P.; COSTA, G. C.; GAINSBURY, A. M.; GARDA, A. A.; MESQUITA, D. O.; FILHO, C. M. M. R.; SOARES, A. H. B.; SILVA, V. N.; VALDUJO, P. H.; VIEIRA, V. H. C.; VITT, L. J.; WERNECK, F. P.; WIERDHECKER, H. C.; ZATZ, M. G. A new species of Cnemidophorus (Squamata, Teiidae) from the cerrado biome in central Brazil. 2003. Occasional Papers – Oklahoma Museum of Natural History, 14:1-14.
DIAS, E. J. R.; ROCHA, C. F. D.; VRCIBRADIC, D. New Cnemidophorus (Squamata: Teiidae) from Bahia State, Northeastern Brazil. 2002. Copéia, 2002:1070-1077.
ROCHA, C. F. D.; ARAÚJO, A. F. B.; VRCIBRADIC, D.; COSTA, E. M. M. New Cnemidophorus (Squamata; Teiidae) from coastal Rio de Janeiro State, Southeastern Brazil. 2000. Copéia, 2000:501-509.
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