Embora a maioria dos lagartos se reproduza por oviparidade, a viviparidade não é um fenômeno tão raro entre estes animais. A reprodução vivípara evoluiu diversas vezes entre os répteis escamados (lagartos e serpentes), gerando uma diversidade de estágios de retenção e nutrição de embriões pelo corpo materno. Tal diversidade faz dos lagartos modelos de estudo ideais para o estudo da viviparidade, na tentativa de se esclarecer como este fenômeno evoluiu nos mamíferos e nos demais vertebrados (Blackburn, 2006).
A viviparidade em lagartos sempre esteve diretamente associada a um grupo de lagartos, os scincídeos (Família Scincidae), entre os quais se incluem espécies ocorrentes no Brasil, como os “calangos-lisos” do gênero Mabuya.
Até pouco tempo, os lagartos do gênero Mabuya eram tidos como os que apresentavam os mais altos graus de viviparidade, incluindo a presença de placentas complexas, elevadas taxas de transferência de nutrientes da mãe para os embriões e longo período de gestação, entre 9 e 12 meses (Vitt & Blackburn, 1991).
Figura 1. Indivíduo de Mabuya nigropunctata. Fotografia de Daniel Passos.
Entretanto, em 2011, foi descoberto um novo ícone entre os lagartos vivíparos. O pequeno lagarto africano Trachylepis ivensi, extremamente raro e pouco estudado, atualmente é considerado um caso extremo de especialização placentária, diferindo de todos os tipos de viviparidade até então conhecidos para os répteis (Blackburn & Flemming, 2011).
O mais recente mecanismo de viviparidade em lagartos destaca-se por apresentar alto grau de associação entre placenta e embrião, com contato direto entre os tecidos embrionários e a rede de vasos sanguíneos maternos, o que confere um suprimento nutricional do embrião totalmente dependente da mãe.
Esta recente descoberta foi publicada em setembro de 2011 na revista Journal of Morphology e pode ser acessada em detalhes no link a seguir (Viviparidade em Trachylepis ivensi).
Por: Daniel Passos, membro do NUROF-UFC
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