Quem bebe veneno se torna antídoto?

As jararacas são serpentes da família Viperidae, peçonhentas e de comportamento agressivo. Seus mecanismos de envenenamento compreendem, pelo menos, três ações principais:
1. Ação proteolítica ou inflamatória (degrada componentes da matriz extracelular, causando necrose tecidual);
2. Ação coagulante (compete inibindo uma molécula ativadora da cascata de coagulação);
3. Ação hemorrágica (destrói as paredes dos vasos sanguíneos).
A atuação conjunta das três ações leva uma presa (dependendo do tamanho e do estado de saúde) à morte em um intervalo de minutos a horas (Figura 1).

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Figura 1. Jararaca do Norte (Bothrops atrox), natural da Serra de Ubajara, Ceará. (Fonte: Ávila, RW/NUROF-UFC).

Porém, as jararacas não são apenas predadoras. Elas também podem se comportar como presas.

Mas, se carregam uma peçonha tão poderosa, que pode destruir os tecidos animais, como um predador consegue comê-las sem se envenenar?  🤔

Alguns animais já tiveram registrada essa fantástica característica de predar uma jararaca sem morrerem envenenados. Mamíferos como doninhas e mangustos, alguns pássaros, lagartos e outras serpentes já foram apontados como “imunes” ao veneno de jararacas e cascavéis.

Por exemplo, a acauã (Herpetotheres cachinnans) é um falconídeo que foi visto recentemente predando uma Jararaca do norte (Bothrops atrox) em uma reserva na Floresta Amazônica do Equador1. O curioso é que a ave perspicaz arranca a cabeça da serpente antes de se alimentar do corpo… Claramente evitando comer a região das glândulas de veneno, e se esquivando de se expor à intoxicação (Figura 2).

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Figura 2. Acauã decapita jararaca do norte. (Fonte: Medrano-Vizcaíno, 2019).

Bem, se a acauã parece ser um falcão “arretado” de corajoso, por enfrentar uma jararaca para se alimentar, vejamos o próximo predador da nossa lista.

O Cassaco (Didelphis albiventris), também conhecido como Gambá de orelha branca, Saruê ou Mucura) é um pequeno marsupial registrado em quase todos os estados do Brasil e em países vizinhos. Apesar da fama em vida livre, o fenômeno precisava ser estudado de forma mais metódica. Em um estudo antigo, pesquisadores registraram a predação de Jararacas (Bothrops jararaca), por Cassacos em cativeiro2(Figura 3). Observaram que tanto machos, quanto fêmeas, adultos e jovens, tinham o mesmo comportamento: mordiam a serpente na cabeça, depois as sacudiam forte; ao percebê-las imóveis, iniciavam a ingestão, comendo primeiro a cabeça. Em outro estudo, com outra espécie de Cassaco e predação de cascavéis, perceberam que mesmo quando eram picados, não havia sinais clínicos e a predação não era interrompida3.

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Figura 3. Sequência de comportamento de predação de Jararaca por Cassaco. (Fonte: Oliveira et al., 1999).

Isso sim é que é ter “sangue no olho”! Nada de jogar a cabeça fora; é a primeira parte que é comida.

Estudos posteriores mostraram que Cassacos que se alimentam de serpentes peçonhentas desenvolvem ferramentas bioquímicas de evasão de diferentes moléculas tóxicas, neutralizando as ações danosas dos venenos em seu organismo. É um tipo de “imunidade”, adquiridas em longo…longo prazo, num processo denominado como coevolução adaptativa. Proteínas anti-hemorrágicas4 e ausência do fator pró-coagulante de van Willebrand5 já foram descritas como estratégias de evasão à toxicidade dos venenos em Cassacos.

Já a cobra preta Muçurana (Clelia clelia)  é conhecida há décadas por “arrochar o nó” quando o assunto é Jararaca. Estudos do final do século passado confirmaram que seu soro sanguíneo aquecido era capaz de neutralizar efeitos inflamatórios e necróticos em pele e musculatura de camundongos de laboratório intoxicados experimentalmente pela Jararaca de veludo (Bothrops asper)6,7. Tanto o soro de Muçuranas adultas quanto de recém-nascidas tinha esse fantástico poder. Ô bichas “pais d’égua”!

Por último, o crocodilo americano (Alligator mississippiensis) foi o mais recente predador a ter confirmadas as propriedades antiveneno de jarararacas8. Seu soro sanguíneo foi testado em camundongos experimentalmente intoxicados por veneno de Jararaca cabeça de cobre (Agkistrodon contortrix), e observou-se neutralização da ação hemolítica de enzimas metaloproteinases. Aí eu “dou valor”!

***

Confira os termos regionais:

Arretado: qualidade de algo ou alguém que é muito bom em algum aspecto.

Sangue no olho: indivíduo valente.

Arrochar o nó: enfrentar bravamente.

Pai d’égua: Legal, bacana.

Dar valor: valorizar; curtir; gostar muito.

***

Autora: Roberta da Rocha Braga



Referências

  1. MEDRANO-VIZCAÍNO, P. Predating behavior of the Laughing falcon (Herpetotheres cachinnans) on the venomous Amazonian pit viper Bothrops atrox (the use of roads as a prey source). BioRisk, v. 14, p. 25–30, jul. 2019. Disponível em: <https://doi.org/10.3897/biorisk.14.35953&gt;.
  2. OLIVEIRA, M. E.; SANTORI, R. T. Predatory Behavior of the Opossum Didelphis albiventris on the Pitviper Bothrops jararaca. Studies on Neotropical Fauna and Environment, v. 34, n. 2, p. 72–75, 9 ago. 1999. Disponível em: <http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1076/snfe.34.2.72.2105&gt;.
  3. ALMEIDA-SANTOS, S. M. et al. Predation by the Opossunn Didelphis marsupialis on the Rattlesnake Crotalus durissus. Current herpetology, v. 19, n. 1, p. 1–9, 2000. Disponível em: <http://joi.jlc.jst.go.jp/JST.Journalarchive/hsj2000/19.1?from=CrossRef&gt;.
  4. NEVES-FERREIRA, A. G. . et al. Isolation and characterization of DM40 and DM43, two snake venom metalloproteinase inhibitors from Didelphis marsupialis serum. Biochimica et Biophysica Acta (BBA) – General Subjects, v. 1474, n. 3, p. 309–320, maio 2000. Disponível em: <https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0304416500000222&gt;.
  5. JANSA, S. A.; VOSS, R. S. Adaptive evolution of the Venom-targeted vWF protein in opossums that Eat Pitvipers. PLoS ONE, v. 6, n. 6, 2011.
  6. LOMONTE, B. et al. Neutralization of local effects of the terciopelo (Bothrops asper) venom by blood serum of the colubrid snake Clelia clelia. Toxicon, v. 20, n. 3, p. 571–579, jan. 1982. Disponível em: <https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/0041010182900514&gt;.
  7. LOMONTE, B. et al. [The serum of newborn Clelia clelia (Serpentes: Colubridae) neutralizes the hemorrhagic action of Brothrops asper venom (Serpentes: Viperidae)]. Revista de biologia tropical, v. 38, n. 2A, p. 325–6, nov. 1990. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2101463&gt;.
  8. FINGER, J. W. et al. American Alligator (Alligator mississippiensis) Serum Inhibits Pitviper Venom Metalloproteinases. Journal of Herpetology, v. 54, n. 2, p. 151, 11 mar. 2020. Disponível em: <https://bioone.org/journals/journal-of-herpetology/volume-54/issue-2/19-027/American-Alligator-Alligator-mississippiensis-Serum-Inhibits-Pitviper-Venom-Metalloproteinases/10.1670/19-027.full&gt;.

Jacarés do estado do Ceará

No dia 17 de junho é celebrado o Dia Mundial dos Crocodilianos, alguns dos répteis mais curiosos da atualidade.

Você conhece as espécies de crocodilianos que ocorrem no estado do Ceará? São duas espécies de jacarés:

Jacaretinga (Caiman crocodilus), encontrado em Caucaia, Crateús e Trairi; e Jacaré-anão (Paleosuchus palpebrosus), que ocorre em Crateús, São Benedito e Itapipoca.

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Figura 1. Jacaretinga, Caiman crocodilus. Fonte: Reptile database.

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Figura 2. Jacaré-anão, Paleosuchus palpebrosus. Fonte: Reptile database.

Registros da presença de jacarés no Ceará existem desde 1948, quando Dias da Rocha afirmou que uma espécie pequena de jacaré ocorria nos terrenos pantanosos cearenses. Registros científicos desses animais, no entanto, só ocorreram em 2008 e em 2011 com a publicação de dois trabalhos que confirmaram a existência de populações nativas dessas duas espécies no Ceará (Borges-Nojosa e Lima 2008, Lima e Borges-Nojosa 2011).

Em Fortaleza, também existem jacarés (talvez você já tenha visto algum vídeo dos famosos jacarés da lagoa da Parangaba). No entanto, a possível população atual de jacarés da cidade provavelmente não é nativa e pode ser fruto de solturas indevidas desses répteis na década de 90.

Apesar disso, não é completamente improvável a presença de populações nativas de jacarés na cidade de Fortaleza, pois existem registros históricos da presença desses animais na região, mas essas populações nativas podem ter sido extintas e substituídas por populações introduzidas.

Autoras: Isabel Cristina e Déborah Praciano



Referências

Fernandes-Ferreira, Hugo, et al. História da zoologia no Estado do Ceará Parte I: vertebrados continentais. Gaia Scientia 8.1 (2014): 99-120.

Veja qual a explicação para o jacaré ‘passeando’ na Av. José Bastos. Tribuna do Ceará, 2017. Disponível em: <https://tribunadoceara.com.br/noticias/cotidiano-2/veja-qual-explicacao-para-o-jacare-passeando-na-av-jose-bastos/amp/>. Acesso em: 17 de jun. de 2020.

Os maiores répteis da atualidade – Entendendo os Crocodilianos

Todos nós certamente já vimos algum filme, livro, jogo ou documentário onde aparecem esses majestosos répteis – os crocodilianos. E muito provavelmente as primeiras coisas que devem aparecer em nossa mente quando citam eles são os dentes, as garras, a boca ou outra característica que remeta ao seu papel de predador, que é exorbitantemente explorado pela mídia. Entretanto, esses animais possuem diversos hábitos e características interessantes, muitas vezes esquecidas, que você ficará por dentro a partir de agora.

Os crocodilianos pertencem à ordem Crocodylia e são divididos em 3 famílias: a Crocodylidae, dos crocodilos (Fig. 1); Alligatoridae, dos jacarés (Fig. 2) e aligátores (Fig. 3); e Gavialidae, dos Gaviais (Fig. 4). Juntando essas 3 famílias dá um total de apenas 23 espécies. O Brasil apresenta 6 destas espécies, todas jacarés.

Fig.1. Crocodilo (Crocodylus porosus). Crédito: Dan Grange

Fig.1. Crocodilo (Crocodylus porosus). Crédito: Dan Grange

Fig. 2. Jacaré (Caiman yacare). Crédito: Steve Grenard

Fig. 2. Jacaré (Caiman yacare). Crédito: Steve Grenard

Fig. 2.1. Fêmea aligátor com filhote na boca. Créditos: © CC Lockwood / © Animals Animals

Fig. 3. Fêmea aligátor (Alligator mississippiensis) com filhote na boca. Créditos: © CC Lockwood / © Animals Animals

Fig. 3. Gavial (Gavialis gangenticus). Crédito: © Adam Brittom

Fig. 4. Gavial (Gavialis gangenticus). Crédito: © Adam Brittom

Como todos possuem mais ou menos o mesmo formato de corpo, é compreensível se confundir às vezes, mas existem algumas diferenças evidentes.

Os membros da família Gavialidae são os mais fáceis de diferenciar: só existe uma espécie e ela é bem distinta das outras por conta de seu focinho estreito, que é uma adaptação para caçar peixes. Além disso, estão restritos à Índia e ao Nepal (POUGH, 2003).

De modo mais grosseiro, também é possível diferenciar os jacarés e aligátores de crocodilos da mesma maneira; os primeiros possuem o focinho mais largo das três famílias. Já os crocodilos variam o tamanho do focinho, mas normalmente não é tão largo quanto o de jacarés e aligátores e tampouco estreito como de um gavial (POUGH, 2003).

Também é possível aferir que quase todos os animais da família Alligatoridae pertencem as Américas, exceto uma espécie de aligátor (Alligator sinensis) que é encontrada apenas na China. Os crocodilos já ocupam uma maior área, sendo encontrados nas Américas, Ásia, Oceania e África.

Além do mais, o posicionamento dentário também pode ajudar na identificação. Por exemplo, na família Alligatoridae, os dentes da mandíbula não são visíveis quando a boca deles está fechada; já na família Crocodylidae, mesmo com a boca fechada é possível ver os dentes da maxila e mandíbula. A perda de dentes é bastante comum nesses animais, mas não é preocupante pois eles são constantemente repostos (SILVA, 2007).

Fig. 4. Alimentação de um Crocodylus porosus em cativeiro. Observe o tamanho do homem em ralação ao animal. Crédito: © Adam Brittom

Fig. 5. Alimentação de um Crocodylus porosus em cativeiro. Observe o tamanho do homem em ralação ao animal. Crédito: © Adam Brittom

Os crocodilianos são animais ovíparos, carnívoros (Fig. 5) e normalmente ocupam o topo da cadeia alimentar nos ambientes em que vivem. Juntamente com os pássaros, são os únicos sobreviventes do grupo Archosauria (Fig. 6) – o mesmo grupo dos dinossauros e pterossauros, por exemplo (JANKE & ARNASON, 1997).

Fig. 5. Clado Archosauria. Créditos: USP

Fig. 6. Filogenia dos Archosauria. Créditos: USP

São animais de grande porte. Atualmente, os maiores crocodilianos são os crocodilos, e seu maior representante, o Crocodylus porosus, possui seus 6 metros bem relatados na literatura. É interessante saber que no período cretáceo existiam crocodilianos bem maiores, como o Deinosuchus (Fig. 7), que passava dos 12 metros e provavelmente era capaz de predar dinossauros (SCHWIMMER, 2002). Mesmo assim, graças à caça intensiva, muitos crocodilianos atuais não conseguem atingir o tamanho que deveriam alcançar geneticamente (POUGH, 2003). Apesar de serem de grande porte e possuírem características únicas na capacidade de caça e defesa, além de uma considerável inteligência, vários crocodilianos estão na lista de animais ameaçados de extinção, alguns até em estado crítico (IUCN, 2015).

Fig. 6. Reconstrução do Deinosuchus. Créditos: Brian Switek / Natural History Museum of Utah

Fig. 7. Reconstrução do Deinosuchus. Créditos: Brian Switek / Natural History Museum of Utah

Diferente dos crocodilianos do Triássico, que eram mais terrestres, os atuais estão bem adaptados a uma vida semi-aquática em água doce, embora existam outros que toleram altos níveis de salinidade (p.e.: Crocodilus porosus, Fig.1); mesmo assim, eles ainda colocam os ovos em terra seca, como seus ancestrais.

Os crocodilianos possuem uma alimentação muito diversificada. Quando jovens, consumem em sua maioria artrópodes, por conta do tamanho pequeno. Quando mais velhos, possuindo um porte maior e mais força, passam a comer principalmente vertebrados, tais como peixes (Fig. 8), aves e alguns mamíferos de grande porte (SANTOS, 1997).

É possível observar que eles engolem grandes porções de alimentos ou até animais inteiros. Presas pequenas podem ser engolidas inteiras, mas quando estão diante de presas muito grandes, “parcelam” o animal em pedaços menores e levantam a cabeça para conseguir engolir (MCILHENNY, 1935). Até aves e morcegos podem ser capturados em pleno voo, pois alguns crocodilianos podem se impulsionar para fora d’água (COLE, 2002).

Fig. 7. Gavial comendo peixe. Créditos: © Olivier Born / Biosphoto.

Fig. 8. Gavial comendo peixe. Créditos: © Olivier Born / Biosphoto.

Após atingir certo tamanho e idade, a maturidade sexual é alcançada – entretanto, diferente de mamíferos e aves, os crocodilianos continuam a crescer mesmo após atingir a maturidade sexual (WEBB et al, 1978). Após o acasalamento, a fêmea procura terra para depositar os ovos, e algumas espécies ainda cuidarão dos filhotes após a eclosão (Fig. 9), normalmente até eles aprenderem a nadar bem – ou seja, alguns crocodilianos possuem cuidado parental (BRITTON, 1995).

Crocodilo do Nilo (Crocodylus niloticus) fêmea ajudando o filhote a sair do ovo. Créditos: © Anup Shah / naturepl.com

Fig. 9. Crocodilo do Nilo (Crocodylus niloticus) fêmea ajudando o filhote a sair do ovo. Créditos: © Anup Shah / naturepl.com

Como vários outros animais, os crocodilianos podem atacar humanos. Ataques podem ser ocasionados por falta de atenção do animal ou estresse provocado por pessoas (HADDAD JR, 2008). Entretanto, existem vários outros fatores de risco, sendo o principal deles a ocupação de pessoas nos ambientes naturais desses animais. Existem ainda casos de pessoas que nadaram deliberadamente em águas habitadas por crocodilianos ou que tiveram contato com esses animais após o consumo de álcool (MEKISIC, 1991).

Boa parte dos acidentes envolvendo crocodilianos poderiam ser evitados tomando precauções adequadas, envolvendo principalmente a parte de educar pessoas em relação a esses grandes répteis (BRITTON, 1995). Para casos mais extremos, onde pessoas precisam dividir o ambiente com esses animais, adota-se uma medida de relocação de animais que chegam muito perto de vilas ou cidades (WALSH & WHITEHEAD, 1993). Isso ainda não é o ideal, mas é suficientemente bom para continuarmos a viver sem prejudicar tanto esses animais, que são predadores de topo de cadeia (Fig. 10), possuindo um importante papel na regulação de suas comunidades.

Crocodilo do Nilo adulto (Crocodylus niloticus). Créditos: © Paul Hobson / www.flpa-images.co.uk

Fig. 10. Crocodilo do Nilo adulto (Crocodylus niloticus). Créditos: © Paul Hobson / http://www.flpa-images.co.uk

Texto por: Lucas Araújo de Almeida, bolsista do NUROF-UFC

FONTES 

1) Usando a árvore para classificação (USP) – acessado 18/08/2015

REFERÊNCIAS

1) Janke, A., & Arnason, U. (1997). The complete mitochondrial genome of Alligator mississippiensis and the separation between recent archosauria (birds and crocodiles). Molecular biology and evolution14(12), 1266-1272.

2) Santos, S. A. (1997). Dieta e nutrição de crocodilianos. Embrapa-CPAP, Corumbá, 59.

3) McIlhenny, E. A. (1935). The alligator’s life history.

4) de Campos NetoI, M. F., StolfII, H. O., & JuniorIII, V. H. (2013). Ataque de jacaré a pescador no Pantanal de Mato Grosso (Brasil): relato de caso. Diagn Tratamento18(1), 21-23.

5) Haddad Jr, V. (2008). Animais aquáticos potencialmente perigosos no Brasil: guia médico e biológico. Editora Roca.

6) Mekisic, A. P., & Wardill, J. R. (1991). Crocodile attacks in the Northern Territory of Australia. The Medical journal of Australia157(11-12), 751-754.

7) Schwimmer, D. R. (2002). King of the crocodylians: the paleobiology of Deinosuchus. Indiana University Press.

8) Walsh, B., & Whitehead, P. J. (1993). Problem crocodiles, Crocodylus porosus, at Nhulunbuy, Northern Territory: an assessment of relocation as a mangaement strategy. Wildlife Research, 20(1), 127-135.

9) Cole, H. (2002). Crocodiles. Oxford University Press.

10) Silva, J. C. R. (2007). Tratado de animais selvagens-medicina veterinária. Editora Roca.

11) IUCN – The IUCN Red List of Threatened Species. –  acessado 18/08/2015

12) Crocodilians. Natural History & Conservation. Adam Britton., 1995. – acessado 18/08/2015 

13) Webb, G. J. W., Messel, H., Crawford, J., & Yerbury, M. J. (1978). Growth Rates of Crocodylus Porosus (Reptilia: Crocodilia) From Arnhem Land, Northern Australia. Wildlife Research, 5(3), 385-399.

Notícia: Biólogos mostram a existência de sete espécies distintas de crocodilo africano, e não apenas três.

Há muito tempo eram conhecidas apenas três espécies de crocodilo africano, porém uma recente pesquisa realizada na Universidade da Florida (UF) descobre que há pelo menos sete espécies distintas de crocodilo africano.

A recente descoberta, que foi liderada pelo doutorando Matthew H. Shirley, é que uma espécie reconhecida de “crocodilo de focinho-delgado” é na verdade formada por duas espécies.

Esta descoberta foi publicada semana retrasada na revista Proceedings of the Royal Society B. Os resultados têm implicações importantes em decisões políticas e ambientais. Segundo Jim Austin, coautor do artigo e orientador de Shirley, os resultados enfatizam o quão pouco se conhece sobre a biogeografia destes crocodilos ou como as espécies estão distribuídas geograficamente ao longo do tempo na África Ocidental e Central.

"Crocodilo de focinho-delgado" no Gabão. Fotografia de  Matt Shirley (UF/IFAS). Fonte: Science Daily.
“Crocodilo de focinho-delgado” no Gabão. Fotografia de Matt Shirley (UF/IFAS). Fonte: Science Daily.

No artigo, Shirley e seus colaboradores descrevem que as populações do “crocodilo de focinho-delgado” da África Ocidental não partilham as mesmas características físicas ou genéticas com as populações da África Central. Eles estimam que as duas populações foram separados geograficamente uma da outra por pelo menos sete milhões de anos.

O conhecimento preciso da taxonomia de animais e plantas é importante para agências de conservação para evitar a utilização de preciosos financiamentos na proteção de espécies que podem ser mais abundantes do que se acreditava. No caso do crocodilo africano, estes recursos podem ser direcionados para espécies no qual as populações são menores do que se acreditava.

Segundo Shirley o “crocodilo de focinho-delgado” do Oeste Africano está entre os três ou quatro crocodilos mais ameaçados do mundo, com o reconhecimento de uma espécie distinta, é muito melhor a tentativa de avançar na sua conservação e garantir o seu futuro.

Shirley comparou a situação do “crocodilo de focinho-delgado” do Oeste Africano com o jacaré americano, quase extinto na década de 1960, mas como foi protegido, agora pode ser facilmente observado na natureza.

Na África os crocodilos são comercializados e consumidos como carne de caça, tornando-se uma fonte de proteína importante para os nativos. Eles desempenham um papel importante no topo da pirâmide alimentar, com influência significativa nos peixes e crustáceos, assim como os leões controlam as populações de antílope. Segundo Shirley “se ele for removido do ecossistema, poderão ocorrer efeitos profundos sobre recursos pesqueiros no futuro”.

A identificação de crocodilos é muito difícil a partir de características externas. Para reforçar a análise genética, os pesquisadores também analisaram as características do crânio de “crocodilos de focinho-delgado” de coleções em museus e encontraram diferenças consistentes entre espécies.

Segundo Austin, o trabalho da equipe vai levar informações úteis para zoológicos e aquários ao auxiliar na correta identificação de crocodilos africanos mantidos em suas instalações. Sem este conhecimento, tratadores poderiam cruzar espécies diferentes gerando descendentes ineficazes para conservação da espécie. “Estamos fazendo o trabalho para ver qual espécie eles realmente têm”.

Sintetizado e traduzido a partir de: Science Daily

Confira também: Notícia: Uso de ferramentas por crocodilianos: crocodilos e jacarés usam galhos como isca para atrair aves aquáticas

Notícia: Uso de ferramentas por crocodilianos: crocodilos e jacarés usam galhos como isca para atrair aves aquáticas

Crocodilianos são animais de comportamento complexo que se interessam por todo tipo de coisa que chame sua atenção. Além disso, desempenham complexas interações sociais, como o reconhecimento visual, monogamia, caça social, rápida capacidade de aprendizagem e boa capacidade de lembrança foram observadas neste grupo. Outro inesperado comportamento complexo acaba de ser publicado, que é o uso de ferramentas por crocodilianos.

Gatuno crocodilo (Crocodylus palustris) em Madras Crocodile Bank, Tamil Nadu, na Índia, com pedaços de galho na cabeça. Fotografia de Vladinir Dinets, de Dinets et al. (2013).  Fonte: Scientific American

“Crocodilo Gatuno” (Crocodylus palustris) em Madras Crocodile Bank, Tamil Nadu, na Índia, com pedaços de galho na cabeça. Fotografia de Vladinir Dinets, de Dinets et al. (2013). Fonte: Scientific American.

Conforme descrito por Dinets et al. 2013, o “crocodilo gatuno” (Crocodylus palustris) na Índia e o “jacaré americano” (Alligator mississippiensis) nos Estados Unidos foram observados enganando garças ao estarem parcialmente submersos com galhos equilibrados em seus focinhos. Quando as aves se aproximam para coletar os galhos que seriam utilizados na construção de ninhos, os crocodilos se aproveitam da oportunidade e capturam a ave que caiu em sua armadilha. Se crocodilianos realmente estão usando galhos para atrair suas presas, pode-se considerar o uso de ferramentas, pois os galhos são objetos que são empregados para uma função específica.

Jacaré americano captura com sucesso uma "garça nevada" (Egretta thula), seguindo ao comportamento de exibição de galho. Fotografia de Don Specht, de Dinets et al. (2013). Fonte: Scientific American

Jacaré americano captura com sucesso uma “garça nevada” (Egretta thula), após comportamento de exibição de galho. Fotografia de Don Specht, de Dinets et al. (2013). Fonte: Scientific American.

A observação de galhos sobre o focinho de crocodilianos não foi aleatória, pois este comportamento foi exibido por ambas as espécies de crocodilianos mantidos em cativeiro e foi observado exclusivamente durante a temporada da nidificação das garças, mais frequente no final de março a abril, quando as garças estão buscando ativamente galhos para construção de ninhos (Dinets et al. 2013).

Foi considerado improvável pelos autores que o comportamento de exibição de galhos fosse resultante da associação aleatória entre crocodilianos do viveiro e galhos flutuantes, uma vez que estes galhos são extremamente raros nos tanques em questão, principalmente na época do ano em que foi observado, porque as árvores locais não liberam galhos e as aves em nidificação removem rapidamente galhos flutuantes para construção de ninhos. Portanto a coleta e uso deliberado de galhos pelos crocodilianos parece mais provável (Dinets et al. 2013). Parece que eles estão praticando comportamento de iscagem, no qual predadores usam objetos para atrair uma presa em potencial, que ao se aproximar torna-se mais fácil de ser capturada. Melhor ainda, eles só praticam este comportamento de iscagem durante um período específico do ano.

O comportamento de iscagem já foi observado para algumas aves e para o “crocodilo de água salgada” Crocodylus porosus que utiliza pedaços de peixe para atrair pássaros. No entanto precisa-se ser um pouco cético quanto à afirmação deste comportamento, pois é preciso de registro por filmagem, demonstrando o comportamento em ação.

Garça verde usando pão como isca para atrair os peixes. De SeaWayBLOG de Guido Trombetta. Fonte: Scientific American

Garça verde usando pão como isca para atrair peixes. De SeaWayBLOG de Guido Trombetta. Fonte: Scientific American.

Como Dinets et al. (2013) notou, a aparente presença deste comportamento em duas espécies de crocodilianos existentes levanta a hipótese deste comportamento ser mais difundido dentro do grupo, e dado a sua presença em crocodilianos e aves, acredita-se que o existiu o uso de ferramentas em iscagem por arcossauros (grupo que inclui crocodilianos, dinossauros e aves) extintos. Número surpreendente e incomum de registros comportamentais em crocodilianos nos últimos anos, incluindo o consumo de frutas e folhas, adoção de filhotes, alimentação destes, capacidade de escalada, caça em grupo, monogamia. Além disso, muito se conhece sobre a existência de um complexo repertório de comunicações vocais e posturais. Tudo isto mostra que crocodilos, jacarés e gaviais são animais complexos, adaptados a fazer muitas coisas que podemos não considerar provável se não tiver sido documentado.

"Crocodilo Orinoco" (C. intermedius) comendo folhas. Fotografis de John Brueggen, de Brueggen (2002), tirada em St. Augustine Alligator Farm Zoological Park. Fonte: Scientific American.

“Crocodilo Orinoco” (Crocodylus intermedius) comendo folhas. Fotografis de John Brueggen, de Brueggen (2002), tirada em St. Augustine Alligator Farm Zoological Park. Fonte: Scientific American.

 

Fonte: Scientific American

Sobre a comparação entre crocodilos e aves, confira: Répteis: Dinossauros, Lagartos, Serpentes, Tartarugas, Crocodilos e … e … e … Aves?

Confira também: Notícia: Ibama resgata jacaré de 1,8 metro em residência no interior do Ceará

Notícia: Ibama resgata jacaré de 1,8 metro em residência no interior do Ceará

Animal foi visto por uma criança no quintal de casa e alertou os pais. Segundo Ibama, animal da Amazônia é levado ao Ceará de forma ilegal.

Um jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris) foi encontrado na manhã do último sábado no quintal de uma casa em Icó, no interior do Ceará, a 375 km de Fortaleza. Segundo o chefe do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) da região, Fábio Lima Bandeira, o animal foi avistado por uma criança, que se assustou e alertou os pais sobre a presença do animal.

Animal foi capturado em residência no interior do Ceará (Foto: Richard Lopes/Arquivo pessoal)

Animal foi capturado em residência no interior do Ceará. Fotografia de Richard Lopes/Arquivo pessoal

Apesar do animal não ter apresentado reação agressiva, o Ibama recomenda que as pessoas não tentem se aproximar deste tipo de animal e entrem em contato com o órgão ou com a Polícia Militar Ambiental para fazer o resgate de espécies selvagens.

O animal foi resgatado na zona rural de Icó, no Sítio Logradouro. Segundo Rolfran Ribeiro, chefe de fiscalização do Ibama no Ceará, os filhotes são levados clandestinamente a outros estados do país*. De acordo com fiscais do órgão federal, o jacaré deve ter saído de açudes secos, onde vivia, na procura por comida nas residências da região.

O espécime capturado pesa 22 quilos e idade estimada de cinco anos. Será levado ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), em Fortaleza, onde passará por exames de saúde. Após período de quarentena, os fiscais irão avaliar se o animal tem condições de ser devolvido a natureza.

Notícia sintetizada a partir de G1|Ceará

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*Na notícia original era informado que Caiman latirostris é comum da região Amazônica, mas esta espécie é comum da Mata Atlântica e da região Sul do Brasil.

Clipagem: O atendimento de animais silvestres em clínicas de pequenos animais

Com a crescente verticalização das moradias, é cada vez mais comum à criação de animais não convencionais nos lares, por estes ocuparem menor espaço, serem de fácil manejo e manutenção. Ainda, desde os tempos mais remotos, os animais silvestres sempre tiveram presentes nas casas, impulsionados pelo crescente número de criatórios registrados no IBAMA.

Com isso, é cada vez mais frequente a presença destes na clínica de pequenos animais e o clínico deve estar preparado para fornecer as corretas orientações de manejo, ambiente de criação, nutrição, biologia aplicada, entre outros; assim como saber como abordar, conter, examinar, tratar e manter internado este paciente tão diferente dos animais domésticos convencionais. O correto conhecimento dos tópicos apresentados é crucial para o sucesso do profissional que pretende oferecer a seus clientes um serviço pleno na clínica de pequenos animais.

A criação de animais não convencionais e silvestres tem se tornado uma prática comum nos lares. O que eleva a demanda de atendimento especializado para estes animais.

O animal silvestre é diferente de um cachorro e de um gato. Ele se estressa mais fácil, às vezes é difícil de segurar e ainda por cima pode bicar e morder.

A anatomia e fisiologia únicas dos répteis, aves e mamíferos silvestres, tornam os procedimentos cirúrgicos nestes animais bastante diferentes daqueles empregados em cães e gatos.

A abordagem cirúrgica requer equipamentos especiais de acesso e acompanhamento do paciente no transoperatório, como anestesia inalatória, monitores cardíacos, oxímetro de pulso, Doppler vascular, bomba de infusão e em alguns casos deve-se valer de serras cirúrgicas específicas para cascos e bicos.

As clínicas que atendem animais silvestres devem valer do maior número de métodos diagnósticos para descobrir as afecções que acometem aves, répteis e pequenos mamíferos, pois, muitas delas apenas podem ser descobertas com o uso de raios-X. Os posicionamentos radiográficos não são os mesmos adotados em cães e gatos e algumas vezes é preciso anestesiar os animais. E o profissional que vai prestar o atendimento precisa ser capacitado para poder lidar com as principais situações ocorridas na clínica de pequenos animais.

Leia também: Meu bichinho de estimação é silvestre

Fonte: CPT Cursos Presenciais

Adaptação: Revista Veterinária

Disponível em:  RevistaVeterinaria.com.br

Os números de 2012

Se 2012 foi um ano muito bom para os herpetólogos de plantão, aguardem por textos, curiosidades e discussões ainda melhores em 2013! Ótimo 2013 para todos nós e para toda a herpetologia! Lá vamos nós!

Aqui está um excerto:

19,000 people fit into the new Barclays Center to see Jay-Z perform. This blog was viewed about 120.000 times in 2012. If it were a concert at the Barclays Center, it would take about 6 sold-out performances for that many people to see it.

Clique aqui para ver o relatório completo

Notícia: Moradora encontra filhote de jacaré no banheiro de casa em Alegre, ES

Moradora tomou um grande susto ao encontrar o animal.
Jacaré foi recolhido pela polícia e solto às margens do rio Itabapoana.

Um filhote de jacaré de apenas 58 centímetros foi encontrado por uma moradora dentro do banheiro de sua casa em Alegre, no Sul do Espírito Santo. Ela acionou a Polícia Militar Ambiental, que recolheu o animal na tarde deste sábado (10).

Segundo a polícia, a moradora reside em uma chácara às margens do rio Itapemirim e ficou muito assustada ao encontrar o animal no banheiro da residência. Ela afirmou aos policiais que mora há 30 anos no local e nunca havia encontrado um jacaré naquela região.

Após ser recolhido, o animal foi levado para o Parque Municipal Ênio Fazolo, em Guaçuí, onde foi solto nas margens do rio Itabapoana. O parque fica localizado na rodovia ES-484, próximo ao reservatório da Usina Hidrelétrica de Rosal, e possui ambiente favorável para vida e reprodução de diversas espécies da fauna silvestre nativa.

Animal foi solto às margens do rio Itabapoana. (Foto: Divulgação/Polícia Ambiental)

Fonte: G1 Espírito Santo

Nota do Blog do Nurof: Recentemente, novembro de 2011, outro jacaré, de tamanho bem maior que o filhote mostrado acima, também foi encontrado em área urbana no Espírito Santo, como podemos ver na seguinte notícia: Jácaré é encontrado dentro de loja de veículos da Grande Vitória. Eventos como esse nos permitem questionar: quem na verdade está invadindo o espaço de quem?  E vocês, o que acham?

Jacaré é encontrado dentro de loja de veículos na Grande Vitória

Animal, da espécie papo-amarelo, estava em importadora de Cariacica.
Polícia Ambiental demorou mais de 2 horas para capturar o jacaré.

Álvaro Zanotti
Do G1 ES, com informações da TV Gazeta

Jacaré encontrado pesa cerca de 70 quilos e mede 2 metros. (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Um jacaré da espécie papo-amarelo foi encontrado no pátio de uma importadora de veículos na madrugada desta segunda-feira (14), em Itaenga, no município de Cariacica, na Grande Vitória. Funcionários da empresa, localizada no trecho da BR-101 conhecido como Rodovia do Contorno, encontraram o animal por volta de 1h e tomaram um grande susto.
Segundo a Polícia Militar Ambiental, o jacaré mede 2 metros e pesa cerca de 70 kg. Os policiais tiveram muito trabalho para capturar o animal, que estava muito agressivo, e precisaram usar várias cordas. “Ele é um animal muito forte e muito perigoso. A mordida dele é fatal”, afirma o cabo Peroni. A captura foi concluída cerca de duas horas depois. “Demorou pois nossa intenção não era machucar o animal. É preciso fazer com segurança”, afirma Peroni.
Segundo a polícia, esse foi o maior animal da espécie já capturado na Grande Vitória. O jacaré será encaminhado para o Centro de Estudos e Reintegração de Animais Selvagens (Cereias) para ser solto em lugar adequado.

Fonte: G1 Espírito Santo