Continuando a sessão “Parece, mas não é”, neste texto apresentamos os animais vulgarmente conhecidos como cobras-de-vidro.
Como já visto em (A diversidade dos lagartos), a redução apendicular (redução de membros locomotores) evoluiu em diversas linhagens de lagartos. Entretanto, existem representantes extremos desta evolução, os quais possuem apenas diminutos resquícios de membros funcionais ou até mesmo a total ausência de apêndices locomotores.
No Brasil, a popularmente chamada cobra-de-vidro, na verdade, é um lagarto (Gênero Ophiodes) pertencente à Família Anguidae.
A semelhança entre estes lagartos e as serpentes se dá, principalmente, devido ao corpo cilíndrico, alongado, à ausência de membros anteriores e à presença membros posteriores vestigiais, extremamente reduzidos e não-funcionais (Figura 1). Somado a tudo isto, a locomoção dos Ophiodes, através do deslocamento por ondulações laterais do corpo, à semelhança das serpentes, justificam tal confusão.
Figura 1: Ophiodes sp. Foto Michel Aguiar Passos,
disponível em: http://calphotos.berkeley.edu/cgi/img_query?enlarge=0000+0000+0311+2423
Embora à distância a forma e comportamento destes lagartos façam com que sejam confundidos com serpentes verdadeiras, existem diversas características que os distinguem estes répteis, dentre eles:
1. A presença de um par de membros posteriores, mesmo que vestigiais (Figura 2), os distinguem das serpentes, uma vez que nenhuma destas apresenta qualquer membro locomotor;
Figura 2: Detalhe dos membros posteriores (rudimentares) de Ophiodes sp. Foto Michel Aguiar Passos,
disponível em: http://calphotos.berkeley.edu/cgi/img_query?enlarge=0000+0000+0311+2421
2. A existência de pálpebras móveis sobre os olhos, característica ausente nas serpentes;
3. A capacidade de romper a cauda (autotomia) quando expostos a situações de perigo, característica inata dos lagartos (Figura 3);
Figura 3: Autotomia caudal em Ophiodes sp. Foto Michel Aguiar Passos,
disponível em: http://calphotos.berkeley.edu/cgi/img_query?enlarge=0000+0000+0311+2422
4. A morfologia craniana, com duas fenestrações (aberturas) temporais visíveis de cada lado, em vez de apenas uma, como encontrado nas serpentes.
Aguardem o próximo post do “Parece, mas não é”!
Por: Daniel Passos, membro do NUROF-UFC
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