Notícia: Biólogos mostram a existência de sete espécies distintas de crocodilo africano, e não apenas três.

Há muito tempo eram conhecidas apenas três espécies de crocodilo africano, porém uma recente pesquisa realizada na Universidade da Florida (UF) descobre que há pelo menos sete espécies distintas de crocodilo africano.

A recente descoberta, que foi liderada pelo doutorando Matthew H. Shirley, é que uma espécie reconhecida de “crocodilo de focinho-delgado” é na verdade formada por duas espécies.

Esta descoberta foi publicada semana retrasada na revista Proceedings of the Royal Society B. Os resultados têm implicações importantes em decisões políticas e ambientais. Segundo Jim Austin, coautor do artigo e orientador de Shirley, os resultados enfatizam o quão pouco se conhece sobre a biogeografia destes crocodilos ou como as espécies estão distribuídas geograficamente ao longo do tempo na África Ocidental e Central.

"Crocodilo de focinho-delgado" no Gabão. Fotografia de  Matt Shirley (UF/IFAS). Fonte: Science Daily.
“Crocodilo de focinho-delgado” no Gabão. Fotografia de Matt Shirley (UF/IFAS). Fonte: Science Daily.

No artigo, Shirley e seus colaboradores descrevem que as populações do “crocodilo de focinho-delgado” da África Ocidental não partilham as mesmas características físicas ou genéticas com as populações da África Central. Eles estimam que as duas populações foram separados geograficamente uma da outra por pelo menos sete milhões de anos.

O conhecimento preciso da taxonomia de animais e plantas é importante para agências de conservação para evitar a utilização de preciosos financiamentos na proteção de espécies que podem ser mais abundantes do que se acreditava. No caso do crocodilo africano, estes recursos podem ser direcionados para espécies no qual as populações são menores do que se acreditava.

Segundo Shirley o “crocodilo de focinho-delgado” do Oeste Africano está entre os três ou quatro crocodilos mais ameaçados do mundo, com o reconhecimento de uma espécie distinta, é muito melhor a tentativa de avançar na sua conservação e garantir o seu futuro.

Shirley comparou a situação do “crocodilo de focinho-delgado” do Oeste Africano com o jacaré americano, quase extinto na década de 1960, mas como foi protegido, agora pode ser facilmente observado na natureza.

Na África os crocodilos são comercializados e consumidos como carne de caça, tornando-se uma fonte de proteína importante para os nativos. Eles desempenham um papel importante no topo da pirâmide alimentar, com influência significativa nos peixes e crustáceos, assim como os leões controlam as populações de antílope. Segundo Shirley “se ele for removido do ecossistema, poderão ocorrer efeitos profundos sobre recursos pesqueiros no futuro”.

A identificação de crocodilos é muito difícil a partir de características externas. Para reforçar a análise genética, os pesquisadores também analisaram as características do crânio de “crocodilos de focinho-delgado” de coleções em museus e encontraram diferenças consistentes entre espécies.

Segundo Austin, o trabalho da equipe vai levar informações úteis para zoológicos e aquários ao auxiliar na correta identificação de crocodilos africanos mantidos em suas instalações. Sem este conhecimento, tratadores poderiam cruzar espécies diferentes gerando descendentes ineficazes para conservação da espécie. “Estamos fazendo o trabalho para ver qual espécie eles realmente têm”.

Sintetizado e traduzido a partir de: Science Daily

Confira também: Notícia: Uso de ferramentas por crocodilianos: crocodilos e jacarés usam galhos como isca para atrair aves aquáticas

Comportamentos aquáticos em Tropidurus jaguaribanus

Algumas espécies de lagartos são bem conhecidas pelos seus comportamentos aquáticos, por exemplo as “Iguanas Marinhas” e os “Lagartos Jesus Cristo”. Além destes exemplos mais famosos, diversas outras espécies de lagartos, consideradas semi-aquáticas, também apresentam habilidades de nadar e mergulhar (e.g. Neusticurus sp. – Vitt et al., 1998, Uranoscodon sp.– Howland et al., 1990 e Dracaena sp. – Mesquita et al., 2006). Por outro lado, a ocorrência destes comportamentos é rara entre espécies tipicamente terrícolas.

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Figura 1. Indivíduo adulto de Tropidurus jaguaribanus termorregulando sobre uma pequena ilha de rocha, às margens de um açude no sertão do Ceará. Fotografia de Daniel Passos.

Apesar de inesperado, recentemente foi publicado na revista científica Herpetologia Brasileira, o registro de comportamentos aquáticos em Tropidurus jaguaribanus (Figura 1). Os resultados provêm das pesquisas realizadas por biólogos do Núcleo Regional de Ofiologia da Universidade Federal do Ceará, que investigam a biologia dos répteis e anfíbios do Ceará.

Esta é mais uma contribuição à Ciência proveniente dos estudos sobre o calango de lajeiro Tropidurus jaguaribanus, espécie endêmica da Caatinga, descrita em 2011 por membros do NUROF-UFC. Desta vez, os pesquisadores registraram e descreveram os comportamentos de natação (Vídeo 1), mergulho e flutuação na espécie (Passos et al., 2013).

Vídeo 1. Indivíduo adulto de Tropidurus jaguaribanus nadando. Note que os membros anteriores e posteriores, de lados opostos, se movimentam simultaneamente. Imagens de Daniel Passos.

Os autores observaram que Tropidurus jaguaribanus executa comportamentos aquáticos mais frequentemente do que esperado para um lagarto tipicamente terrícola e sugerem que estas habilidades possam contribuir para os indivíduos fugirem de seus predadores e se dispersarem para outras áreas (Passos et al., 2013).

A publicação completa com a descrição detalhada dos comportamentos pode ser acessada gratuitamente em: Tropidurus jaguaribanus (Squamata, Tropiduridae): diving, swimming, and floating behaviors”. Para saber mais sobre a espécie, acesse também: “Nova espécie de lagarto é descoberta no sertão cearense”, “A importância da descoberta de uma nova espécie de lagarto para Caatinga” e “Recentes contribuições à biologia do calango-de-lajeiro Tropidurus jaguaribanus.

Por: Daniel Passos, membro do NUROF-UFC

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HOWLAND, J. M.; VITT, L. J. & Lopez, P. T. 1990. Life on the edge: The ecology and life history of the tropidurine iguanid lizard Uranoscodon superciliosumCanadian Journal of Zoology, 68:1366-1373.

MESQUITA, D. O.; COLLI, G. R.; COSTA, G. C.; FRANÇA, F. G. R.; GARDA, A. A. & PÉRES-JUNIOR, A. K. 2006. At the water’s edge: Ecology of semiaquatic teiids in Brazilian AmazonJournal of Herpetology, 40:221-229.

PASSOS, DC; ZANCHI, D & LIMA, D. C. 2013. Tropidurus jaguaribanus (Squamata, Tropiduridae): diving, swimming, and floating behaviors. Herpetologia Brasileira, 2(3):63-65.

VITT, L. J.; ZANI, P. A.; ÁVILA-PIRES T. C. S. & ESPÓSITO, M. C. 1998. Geographical ecology of the gymnophthalmid lizard Neusticurus ecpleopus in the Amazon rain forestCanadian Journal of Zoology, 76:1671-1680.

Clipagem: Cnemidophorus, os lagartos com cauda de chicote

A equipe do Blog do Nurof – UFC tem o prazer de compartilhar o texto do nosso colunista Daniel Passos, no site de divulgação herpetológica herpeto.org.

Em sua coluna mensal, Daniel escreve sobre a Ecologia e História Natural dos lagartos brasileiros e neste mês ele apresenta os lagartos do gênero Cnemidophorus. Vale a pena conferir!

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“Estes lagartos pertencem à família Teiidae, que tem grande representatividade na herpetofauna americana, com cerca de 150 espécies formalmente descritas (Uetz & Hošek, 2013). No Brasil, ocorrem 35 espécies de teiídeos, 15 das quais são lagartos com cauda de chicote. ”

Acesse o texto completo aqui.

Notícia: Lâmpadas LED reduzem a captura de tartarugas em redes de pesca

Investigação no México mostra como o uso destas lâmpadas podem reduzir a captura acidental de tartarugas marinhas sem ter impacto no valor comercial das pescas.

A  pesca acidental de alguns animais como tartarugas é um fator que  intensifica o declínio de populações que possuem um status vulnerável. Pesquisadores estão procurando desenvolver métodos que reduzam a quantidade de animais capturados involuntariamente nas redes de pesca.

As tartarugas marinhas acabam muitas vezes presas nas redes de pesca DR. Fonte: publico.pt

As tartarugas marinhas acabam muitas vezes presas nas redes de pesca DR. Fonte: publico.pt

John Wang, do Instituto Associado para a Investigação Marinha e Atmosférica, da Universidade do Havai (Estados Unidos), e sua equipe, desenvolveram uma técnica que utiliza a iluminação das redes utilizadas por pescadores com luz ultravioleta de lâmpadas LED. Isso ajuda a evitar que as tartarugas marinhas fiquem presas nas redes.

Para saber mais sobre o assunto acesse: www.publico.pt.

Notícia: Uso de ferramentas por crocodilianos: crocodilos e jacarés usam galhos como isca para atrair aves aquáticas

Crocodilianos são animais de comportamento complexo que se interessam por todo tipo de coisa que chame sua atenção. Além disso, desempenham complexas interações sociais, como o reconhecimento visual, monogamia, caça social, rápida capacidade de aprendizagem e boa capacidade de lembrança foram observadas neste grupo. Outro inesperado comportamento complexo acaba de ser publicado, que é o uso de ferramentas por crocodilianos.

Gatuno crocodilo (Crocodylus palustris) em Madras Crocodile Bank, Tamil Nadu, na Índia, com pedaços de galho na cabeça. Fotografia de Vladinir Dinets, de Dinets et al. (2013).  Fonte: Scientific American

“Crocodilo Gatuno” (Crocodylus palustris) em Madras Crocodile Bank, Tamil Nadu, na Índia, com pedaços de galho na cabeça. Fotografia de Vladinir Dinets, de Dinets et al. (2013). Fonte: Scientific American.

Conforme descrito por Dinets et al. 2013, o “crocodilo gatuno” (Crocodylus palustris) na Índia e o “jacaré americano” (Alligator mississippiensis) nos Estados Unidos foram observados enganando garças ao estarem parcialmente submersos com galhos equilibrados em seus focinhos. Quando as aves se aproximam para coletar os galhos que seriam utilizados na construção de ninhos, os crocodilos se aproveitam da oportunidade e capturam a ave que caiu em sua armadilha. Se crocodilianos realmente estão usando galhos para atrair suas presas, pode-se considerar o uso de ferramentas, pois os galhos são objetos que são empregados para uma função específica.

Jacaré americano captura com sucesso uma "garça nevada" (Egretta thula), seguindo ao comportamento de exibição de galho. Fotografia de Don Specht, de Dinets et al. (2013). Fonte: Scientific American

Jacaré americano captura com sucesso uma “garça nevada” (Egretta thula), após comportamento de exibição de galho. Fotografia de Don Specht, de Dinets et al. (2013). Fonte: Scientific American.

A observação de galhos sobre o focinho de crocodilianos não foi aleatória, pois este comportamento foi exibido por ambas as espécies de crocodilianos mantidos em cativeiro e foi observado exclusivamente durante a temporada da nidificação das garças, mais frequente no final de março a abril, quando as garças estão buscando ativamente galhos para construção de ninhos (Dinets et al. 2013).

Foi considerado improvável pelos autores que o comportamento de exibição de galhos fosse resultante da associação aleatória entre crocodilianos do viveiro e galhos flutuantes, uma vez que estes galhos são extremamente raros nos tanques em questão, principalmente na época do ano em que foi observado, porque as árvores locais não liberam galhos e as aves em nidificação removem rapidamente galhos flutuantes para construção de ninhos. Portanto a coleta e uso deliberado de galhos pelos crocodilianos parece mais provável (Dinets et al. 2013). Parece que eles estão praticando comportamento de iscagem, no qual predadores usam objetos para atrair uma presa em potencial, que ao se aproximar torna-se mais fácil de ser capturada. Melhor ainda, eles só praticam este comportamento de iscagem durante um período específico do ano.

O comportamento de iscagem já foi observado para algumas aves e para o “crocodilo de água salgada” Crocodylus porosus que utiliza pedaços de peixe para atrair pássaros. No entanto precisa-se ser um pouco cético quanto à afirmação deste comportamento, pois é preciso de registro por filmagem, demonstrando o comportamento em ação.

Garça verde usando pão como isca para atrair os peixes. De SeaWayBLOG de Guido Trombetta. Fonte: Scientific American

Garça verde usando pão como isca para atrair peixes. De SeaWayBLOG de Guido Trombetta. Fonte: Scientific American.

Como Dinets et al. (2013) notou, a aparente presença deste comportamento em duas espécies de crocodilianos existentes levanta a hipótese deste comportamento ser mais difundido dentro do grupo, e dado a sua presença em crocodilianos e aves, acredita-se que o existiu o uso de ferramentas em iscagem por arcossauros (grupo que inclui crocodilianos, dinossauros e aves) extintos. Número surpreendente e incomum de registros comportamentais em crocodilianos nos últimos anos, incluindo o consumo de frutas e folhas, adoção de filhotes, alimentação destes, capacidade de escalada, caça em grupo, monogamia. Além disso, muito se conhece sobre a existência de um complexo repertório de comunicações vocais e posturais. Tudo isto mostra que crocodilos, jacarés e gaviais são animais complexos, adaptados a fazer muitas coisas que podemos não considerar provável se não tiver sido documentado.

"Crocodilo Orinoco" (C. intermedius) comendo folhas. Fotografis de John Brueggen, de Brueggen (2002), tirada em St. Augustine Alligator Farm Zoological Park. Fonte: Scientific American.

“Crocodilo Orinoco” (Crocodylus intermedius) comendo folhas. Fotografis de John Brueggen, de Brueggen (2002), tirada em St. Augustine Alligator Farm Zoological Park. Fonte: Scientific American.

 

Fonte: Scientific American

Sobre a comparação entre crocodilos e aves, confira: Répteis: Dinossauros, Lagartos, Serpentes, Tartarugas, Crocodilos e … e … e … Aves?

Confira também: Notícia: Ibama resgata jacaré de 1,8 metro em residência no interior do Ceará