A mortalidade de répteis e o tráfico de animais

O tráfico internacional de animais é um negócio de milhões de euros e envolve centenas de milhões de animais, dentre primatas, aves, répteis e peixes ornamentais. Os répteis são animais de estimação exóticos bem populares. Em alguns países, são retirados diretamente da natureza para a venda; em outros, como os do Reino Unido, movimentam um setor da indústria pet, o da reprodução em cativeiro, que é avaliado em 200 milhões de Libras.

Devido a questões de bem estar animal, perda de biodiversidade e bioética, muito se tem debatido sobre o crescimento do comércio de animais de estimação exóticos.

As legislações internacionais e regionais são muito dinâmicas e estão sempre mudando e adicionando novas restrições. Países como Austrália e Nova Zelândia possuem regras rígidas em relação ao comércio e manutenção de animais exóticos. De acordo com o Animal Welfare Act, na Noruega é proibida a criação de animais exóticos como de estimação, desde 2013. Na última década, os EUA incluíram oito espécies de grandes serpentes constritoras na lista de Injurious Wildlife, consideradas prejudiciais aos ecossistemas locais, tendo, portanto, sua importação proibida.

A maior preocupação de muitos pesquisadores, biólogos, médicos veterinários e protetores de animais é a taxa de mortalidade de répteis que são traficados. Eles podem morrer quando retirados do ambiente selvagem, durante o transporte, e mesmo na casa do consumidor final. Por causa disso, realizaram uma pesquisa através de entrevistas a criadores em dois grandes eventos de herpetocultores no Reino Unido. As perguntas compreenderam dados demográficos, rotina de manejo dos animais no cativeiro e a experiência com morte de animais, incluindo o tempo que passaram com os mesmos após adquiridos. Foram respondidos 265 questionários, abrangendo o histórico de mais de 6 mil répteis. Os entrevistados revelaram que 97% das serpentes, 69% dos quelônios e 87% dos lagartos procediam de reprodução em cativeiro. De forma global, a mortalidade foi estimada em 3,6% no primeiro ano; porém, aplicando os parâmetros distintivos de espécies e procedência, a mortalidade se mostrou muito variável. As serpentes procedentes de reprodução em cativeiro tiveram as menores taxas de mortalidade, com média de 2,3%. Os lagartos, por sua vez, tiveram mortalidades muito mais altas, e maiores ainda quando vindos do ambiente natural. Geckos, iguanas, skinks e tejos apresentaram mortalidade de 6 a 10% no primeiro ano. Camaleões poderiam chegar a 30%.

No Brasil, o IBAMA permite a importação de animais exóticos apenas para Zoológicos e Criadouros científicos ou conservacionistas devidamente registrados (Portaria IBAMA n°93/1998). Desde 2002 (IN IBAMA n°31/2002), proibiu a autorização de funcionamento para novos criadouros de répteis, anfíbios e invertebrados com fins comerciais, sob justificativa de defesa agropecuária do território e de seus ecossistemas.

Quanto às últimas polêmicas sobre a importação de serpentes peçonhentas exóticas e sua manutenção em cativeiro, não existe autorização para tal. O IBAMA não permite a criação de serpentes peçonhentas como de estimação. Os envolvidos serão indiciados e pagarão multa de alguns milhares de reais. Caso seja caracterizado que infligiram maus tratos ou expuseram a sociedade ao risco, poderão sofrer pena de reclusão, caso sejam condenados.

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Figura 1. Animais traficados via correio. Fonte: IBAMA-PR.

Dentro do território nacional, também há transporte e comércio ilegais de espécies nativas. Há poucos dias, a Polícia Rodoviária Federal apreendeu quase 1500 filhotes de jabutis no porta-malas de um carro, na BR-116 em Minas Gerais. Os animais estavam amontoados em sacos de nylon. Foram encontrados 45 animais mortos. Os três homens no carro informaram que pegaram os animais em Feira de Santana, na Bahia, e estavam levando para vender em Juiz de Fora. Eles foram presos em flagrante por tráfico e maus tratos aos animais.

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Figura 2. Fonte: Polícia Militar de Minas Gerais – Divulgação.

Autora: Roberta da Rocha Braga



Referências

Botallo, A. Caso de naja que picou estudante em Brasília reacende debate sobre tráfico ilegal de animais. Folha de São Paulo, São Paulo, 15 Jul 2020. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2020/07/caso-de-naja-que-picou-estudante-em-brasilia-reacende-debate-sobre-trafico-ilegal-de-animais.shtml Acesso em 21 Jul 2020.

BRASIL. Legislação de Fauna Silvestre. Disponível em http://www.ibama.gov.br/legislacao/legislacao-fauna-silvestre?view=default Acesso em 21 jul 2020.

Drummond, I. Polícia apreende 1.459 filhotes de jabutis e calopsitas em Minas. Estado de Minas Gerais, Minas Gerais, 20 Jul 2020. Disponível em https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2020/07/20/interna_gerais,1168600/policia-apreende-1-459-filhotes-de-jabutis-e-calopsitas-em-minas.shtml Acesso em 23 Jul 2020.

Fernandes, T.M. Tráfico de Animais Silvestres e Biopirataria. Disponível em http://www.spvs.org.br/wp-content/uploads/2019/11/Trafico-de-Animais-Silvestres-e-Biopirataria.pdf Acesso em 23 Jul 2020.

Robinson, J. E., St John, F. A., Griffiths, R. A., & Roberts, D. L. (2015). Captive Reptile Mortality Rates in the Home and Implications for the Wildlife Trade. PloS one10(11), e0141460.

Herpesviruses em herpetofauna

Com certeza você já ouviu falar de herpes labial e genital… Aquelas bolhinhas incômodas, dolorosas e contagiosas, que reaparecem no infectado de tempos em tempos, são causadas por Herpesvírus. Mas você sabia que Herpesviruses podem causar doenças para os animais, e que representam grande perigo para as tartarugas marinhas? Fique por dentro no texto a seguir.

A família Herpesviridae contém mais de 100 vírus, de especial importância por sua ampla distribuição, ocorrência e diversidade. São vírus DNA-fita dupla, envelopados, de simetria icosaédrica, que medem entre 120-200nm. Infectam todas as classes de vertebrados, atacam principalmente os sistemas respiratório, reprodutivo e nervoso, e podem causar transformação neoplásica nas células-alvo (1).

Em anfíbios, a infecção foi relatada e posteriormente associada ao desenvolvimento de adenocarcinoma renal em Rana pipiens (2).

Em répteis, já foram detectados em todos os grupos de escamados. Podem acometer as glândulas de serpentes peçonhentas, reduzindo a produção de veneno; podem causar papilomas, estomatite proliferativa, hepatite necrosante em serpentes e em lagartos. Em crocodilianos, já foram associados à cloacite linfocítica (3). Em quelônios, pode causar estomatite e doença respiratória em jabutis, e doença sistêmica em cágados (4). Contudo, o maior número de registros vem ocorrendo em tartarugas marinhas, associado à fibropapilomatose, como veremos a seguir.

Fibropapilomatose em tartarugas

A fibropapilomatose (FP) em tartarugas marinhas vem sendo relatada há mais de 60 anos, e sua prevalência vem aumentando progressivamente a partir dos anos de 1980. Os primeiros registros incluem Flórida (EUA), Hawaii e Ilhas Cayman. Atualmente tem ampla distribuição em águas tropicais. A doença é caracterizada pela proliferação de massas cutâneas verrucosas (ou nódulos viscerais), individuais ou múltiplas, medindo 0,1 a 30,0 cm de diâmetro, que podem apresentar necrose e ulceração (5). A doença é debilitante para os infectados, pois interfere na capacidade de locomoção e alimentação. Ainda não é conhecido tratamento eficaz. A etiologia era incerta até 1999, quando evidências sugeriram envolvimento de um Herpesvírus, através de estudos genéticos e indução de tumores por injeção de células tumorais em embriões de targarugas (6).

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Figura 1: Fibropapilomatose em tartaruga marinha. Fonte: Noah’s Arkive (https://noahsarkive.cldavis.org/cgi-bin/show_image_info_detail.cgi?image=F13594)

No Brasil, o primeiro registro de FP em tartarugas foi em 1986, em Chelonia mydas, espécie em que é mais frequentemente relatada, e que, por esta causa, está ameaçada de extinção. Desde então, vários projetos de pesquisa têm delineado a epidemiologia e a patologia da doença no país. Recentemente, a FP teve uma prevalência de 16% registrada no litoral do nordeste, e foi considerada a principal causa de encalhe de tartarugas nas praias (7).

Atualmente, acredita-se que cofatores ambientais, como poluição, degradação de habitat e aquecimento global, predispõem tartarugas à infecção e ao agravamento da FP (8).

Até a presente data, tratamentos efetivos ainda não foram estabelecidos. O manejo dos casos compreende remoção cirúrgica dos tumores e cuidados paliativos (9). Um artigo recente explora o sequenciamento de RNA e técnicas de transcriptômica para caracterizar a biologia dos tumores removidos de tartarugas verdes cativas na Flórida. Os resultados mostraram que os tumores compartilham características genômicas com tumores humanos (10). Com essa nova informação, será possível testar medicações e protocolos terapêuticos, já utilizados em humanos, para controle da FP em tartarugas.

Autora: Roberta da Rocha Braga



Referências

  1. QUINN, P. et al. Herpesviridae. In: 1. QUINN, P. et al. Microbiologia Veterinária e Doenças Infecciosas. 1°. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2005.
  2. VAN BEURDEN, S.; ENGELSMA, M. Herpesviruses of Fish, Amphibians and Invertebrates. In: MAGEL, G. D.; TYRING, S. Herpesviridae: a Look Into This Unique Family of Viruses. Rijeka: IntechWeb.Org, 2012.
  3. MARSCHANG, R. E. Viruses infecting reptiles. Viruses, v. 3, n. 11, p. 2087–2126, 2011.
  4. RITCHIE, B. Virology. In: MADER, D. R. (Ed.). Reptile Medicine and Surgery. 2nd. ed. Saint Louis: Elsevier Inc., 2006. p. 391-417.
  5. HERBST, L. H. Fibropapillomatosis of Marine Turtles. Annual Review of Fish Diseases, v. 4, n. 6, p. 389–425, 1994.
  6. LACKOVICH, J. K. et al. Association of herpesvirus with fibropapillomatosis of the green turtle Chelonia mydas and the loggerhead turtle Caretta caretta in Florida. Diseases of Aquatic Organisms, v. 37, n. 2, p. 89–97, 1999.
  7. KOPROSKI, L. et al. Perfil Epidemiológico Da Fibropapilomatose Em Tartarugas-Marinhas Encalhadas Entre O Litoral Sul De Alagoas E Norte Da Bahia, Nordeste Do Brasil. Arquivos de Ciências Veterinárias e Zoologia da UNIPAR, v. 20, n. 2, p. 49–56, 2018.
  8. JONES, K. et al. A review of fibropapillomatosis in Green turtles (Chelonia mydas). Veterinary Journal, v. 212, n. November, p. 48–57, 2016.
  9. WYNEKEN, J. et al. Medical Care of Seaturtles. In: MADER, D. R. (Ed.). Reptile Medicine and Surgery. 2nd. ed. Saint Louis: Elsevier Inc., 2006. p. 972-1007.
  10. DUFFY, D. J. et al. Sea turtle fibropapilloma tumors share genomic drivers and therapeutic vulnerabilities with human cancers. Communications Biology, v. 1, n. 1, 2018.

40 anos do Projeto Tamar

Por volta de quatro décadas atrás, o Brasil sofria pressões internacionais exigindo uma posição em relação às tartarugas marinhas, animais ameaçados de extinção em todo o mundo e, como resposta, em 1979 surgiu a ideia de criação do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Tartarugas Marinhas e da Biodiversidade Marinha do Leste, também conhecido como Projeto Tamar (BAPTISTOTTE, 1994.). Ainda segundo Baptistotte (1994), naquele período não havia informações sobre a abundância, a biologia e quais espécies estavam presentes na costa do país.

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Figura 1:
Site do Projeto Tamar. Fonte: Print screen do site do Projeto Tamar, 2019.

Em 2020, o projeto completa 40 anos de existência com 40 milhões de tartarugas marinhas soltas e para comemorar esse trabalho tão incrível e importante para a biodiversidade brasileira, vamos conhecer um pouco mais sobre sua história.

Um grupo de estudantes da Faculdade de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) organizava expedições à praias desertas e distantes para explorar e realizar pesquisas dirigidas no litoral brasileiro e nas ilhas oceânicas com o apoio do Museu Oceanográfico do Rio Grande (TAMAR, 2019). A partir disso, se dava o primeiro passo para o Projeto Tamar que teve seu início realmente em 1980, tendo a Petrobras como sua patrocinadora oficial através do Programa Petrobras Socioambiental (TAMAR, 2019).

Sua sede é localizada em Vitória, Espírito Santo, sendo um dos centros de pesquisas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Serve de modelo para outros países por ser uma das mais bem sucedidas experiências de conservação marinho-costeiro, principalmente por seu trabalho socioambiental que permite a participação direta das comunidades, tendo reconhecimento nacional e internacional (TAMAR, 2019).

O projeto protege aproximadamente 1100 kms de praias com o auxílio de 19 bases presentes em áreas de desova e alimentação desses quelônios, tanto no litoral quanto nas ilhas oceânicas, em nove estados do país: Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina (TAMAR, 2019).  Segundo Baptistotte (1994), essas áreas foram escolhidas depois de dois anos percorrendo e analisando as praias do Rio de Janeiro ao Amapá.

No Brasil, ocorre a presença de cinco espécies de tartarugas marinhas – tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) (Figura 2), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) (Figura 3), tartaruga-verde (Chelonia mydas) (Figura 4), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) (Figura 5) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) (Figura 6) – , sendo assim, o TAMAR apresenta como principal missão pesquisar, proteger e trabalhar com o manejo e conservação desses quelônios (TAMAR, 2019). Para cumprir essa importante missão o projeto conta com uma equipe de técnicos auxiliados por estagiários e comunidades litorâneas.

2Figura 2: Tartaruga – cabeçuda (Caretta caretta). Fonte: Tamar, 2019.

3Figura 3: Tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata). Fonte: Oceana/Carlos Minguell, 2019.

4Figura 4: Tartaruga-verde (Chelonia mydas). Fonte: National Geographic, 2018.

5Figura 5: Tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea). Fonte: Tamar, 2019.

6Figura 6: Tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). Fonte: Tamar, 2019.

Esses quelônios são ameaçados principalmente pela atividade antrópica, que provoca impactos negativos em todo o seu ciclo de vida. Algumas das principais ações humanas que afetam as tartarugas marinhas são as atividades pesqueiras (anzóis e redes de pesca), degradação de áreas de desova, fotopoluição, poluição dos oceanos, desenvolvimento costeiro, consumo de carne e ovos e as mudanças climáticas (ICMBIO, 2019).

A seguir é possível observar alguns dos resultados alcançados pelas ações do projeto juntamente com a comunidade (TAMAR, 2019):

  1. As espécies de tartarugas marinhas presente no Brasil estão se recuperando;
  2. O projeto possui 100% de cobertura nas principais praias de desova (1.100 km);
  3. São cerca de 30.000 ninhos protegidos por ano;
  4. Mais de 39.000.000 animais devolvidos ao mar em 40 anos;
  5. 1.800 oportunidades de trabalho criadas;
  6. 1.000.000 de pessoas por ano nos Centros de Visitantes;
  7. 50 a 60% dos recursos gerados através de atividades sustentáveis

Somente na temporada 2016 – 2017, foram protegidos 11.309 ninhos de tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea), 10.490 ninhos de tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), 2.904 ninhos de tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) e 40 ninhos de tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) (TAMAR, 2019).

Mas como tudo isso ocorre? Todas as noites, entre setembro a março, no litoral, e entre janeiro a junho, nas ilhas oceânicas, as praias de desova são monitoradas por tartarugueiros (pescadores contratados pelo Tamar), estagiários e executores das bases (TAMAR, 2019). A fim de observar fêmeas em ato de postura, analisar o seu comportamento durante a desova, coletar material biológico e registrar dados morfométricos (TAMAR, 2019). Durante o monitoramento, também ocorre a transferência de ninhos presentes em áreas de risco para locais mais seguros na mesma praia, além de serem realizadas marcação e biometria das fêmeas, contagem de ninhos e ovos (TAMAR, 2019).

O Projeto Tamar conseguiu atingir as comunidades costeiras, pescadores e população em geral por meio de ações de Educação Ambiental como os Tamarzinhos, Escolinha Tamar, Nosso Papel de Futuro, Nossa Praia É a Vida, Nem Tudo que Cai na Rede É Peixe, Ida de Filhotes para o Mar e Lixo nas Praias (TAMAR, 2019). Para mais informações sobre os programas acesse o link: http://tamar.org.br/interna.php?cod=372.

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Figura 7: Escolinha Tamar. Fonte: Tamar, 2019.

Além disso, o Tamar também conta com o centro de visitantes e lojas nas regiões litorâneas com potencial turístico. Eles fazem parte do programa de conservação das tartarugas e ajudam a promover a autossustentabilidade do Projeto e das comunidades que apoiam o trabalho (TAMAR, 2019). Os produtos são artesanais feitos por moradores das comunidades locais.

Assim, é possível observar a importância do projeto para a conservação das populações das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, além da ajuda que suas atividades proporcionam a comunidade local. Contudo, é sempre relevante a necessidade de maiores investimentos e incentivos ao projeto.

Para mais informações segue o link de alguns sites:

  1. http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/biodiversidade/fauna-brasileira/plano%20de%20acao/sumario_executivo_pan_tartarugas_marinhas_2019.pdf
  2. http://www.tamar.org.br/publicacoes_html/pdf/1992/1992_Tartarugas_Marinhas_Projeto_TAMAR.pdf
  3. http://www.scielo.br/pdf/bn/v9n2/a13v09n2
  4. http://www.icmbio.gov.br/portal/ultimas-noticias/20-geral/10563-rumo-aos-40-milhoes-de-tartarugas-marinhas-protegidas

 

Referências

BAPTISTOTTE, Cecíclia. Tartarugas Marinhas: Projeto TAMAR. Herpetologia no Brasil, v. 1, p. 19-24, 1994.

BIODIVERSIDADE, Instituto Chico Mendes de Conservação. Sumario Executivo do Plano de Ação Nacional para a Conservação das Tartarugas Marinhas. Disponível em: http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/biodiversidade/fauna-brasileira/plano%20de%20acao/sumario_executivo_pan_tartarugas_marinhas_2019.pdf. Acesso em: 22 de dez. 2019.

TAMAR, Fundação Projeto. Contexto Histórico. Disponível em: https://www.tamar.org.br/interna.php?cod=63. Acesso em: 22 de dez. de 2019.

TAMAR, Fundação Projeto. Informações Gerais Projeto TAMAR. Disponível em: http://tamar.org.br/releases/Infos-gerais-Projeto-Tamar.pdf. Acesso em: 22 de dez. de 2019.

TAMAR, Fundação Projeto. Tartarugas Marinhas e os Ciclos que se Renovam. Disponível em: http://www.tamar.org.br/arquivos/cartilha-2015-tartarugas-marinhas-ciclos.pdf. Acesso em: 26 de dez. 2019.

TAMAR, Fundação Projeto. Análise Detalhada dos Números. Disponível em: http://tamar.org.br/interna.php?cod=76. Acesso em: 22 de dez. 2019.

TAMAR, Fundação Projeto. Pesquisa aplicada. Disponível em:  http://tamar.org.br/interna.php?cod=72. Acesso em: 26 de dez. 2019.

Bebês a bordo: Conheça os mais novos integrantes do NUROF-UFC!

Nessa sexta-feira (29/09), nasceram mais 3 integrantes do NUROF-UFC (Figura 01). Estes são filhotes do cágado conhecido como Muçuã (Kinosternon scorpioides). Os cágados são quelônios de hábito predominantemente aquático de água doce, diferentemente das tartarugas, que são exclusivamente marinhas, e dos jabutis, que são exclusivamente terrestres (Saiba mais um pouco sobre eles aqui).

Castiele Holanda - Muçuãs Filhotes (Kinosternon scorpioides)

Figura 01. Os mais novos 3 integrantes do NUROF-UFC são lindos cágados da espécie Kinosternon scorpioides, conhecidos popularmente como Muçuã. Autora: Castiele Holanda.

Uma curiosidade sobre esses animais é que seu gênero, de nome “Kinosternon”, é derivado da palavra grega “kinetos”, que significa “móvel”, e “sternon”, que significa “peito”, em referência às “dobradiças” presentes em seu plastrão. Já seu epíteto específico, “scorpioides”, é derivado do latim “scorpio”, provavelmente em referência ao espinho córneo no final da sua cauda. Juntando com o final “oides”, “scorpioides” tem como tradução completa “similar a um escorpião”1 apud 2.

Em cativeiro, os Muçuãs se acasalam de Abril a Agosto, e a postura de ovos ocorre de Maio a Setembro, com a postura de 1 a 7 ovos de formato alongado (Figura 02). O período de incubação de seus ovos varia de 111 a 164 dias3. Os três filhotes serão analisados semanalmente para que seu desenvolvimento seja acompanhado. Ainda não se sabe seu sexo, pois os caracteres sexuais dos cágados aparecem apenas em torno de seus 22 meses de idade3.

Castiele Holanda - Muçuã Filhote (Kinosternon scorpioides)

Figura 02. Filhote recém-nascido de Muçuã, Kinosternon scorpioides, dentro de seu ovo. Autora: Castiele Holanda.

Os interessados podem conhecer os filhotes marcando uma visita ao NUROF-UFC, através do email nurofextensao@gmail.com .

Que nomes os três cágados devem receber? Os nomes que você sugerir podem ser os escolhidos!

Texto escrito por  Thaís Abreu e Bruno Guilhon, membros do NUROF-UFC.

 

REFERÊNCIAS

1 DIXON, J. R.; LEMOS-ESPINAL, J. A. Amphibians and reptiles of the state of Queretaro, Mexico. Tlalnepantla UNAM, 2010.

2 The Reptile Database. Kinosternon scorpioides (LINNAEUS, 1766). Disponível em: <http://reptile-database.reptarium.cz/species?genus=Kinosternon&species=scorpioides >.

3 CASTRO, A. B. Biologia reprodutiva e crescimento do muçuã Kinosternon scorpioides (Linnaeus, 1776) em cativeiro. 2006. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Pará. Disponível em: <http://repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/5547/1/Dissertacao_BiologiaReprodutivaCrescimento.pdf >.

Os cágados sociais da Amazônia

Os cágados Podocnemis expansa (FIGURA 01), chamados de Tartaruga-da-Amazônia, são uma espécie de quelônios quase ameaçada de extinção no Brasil1, por conta da caça para diversos fins, como o medicinal2, por exemplo. Apesar disso, a espécie se encontra em menor perigo de extinção nos outros países da América Latina em que também está presente, como Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela3.

Nick Gordon - Podocnemis expansa

Figura 01. Podocnemis expansa, cágado conhecido como “tartaruga-da-amazônia”. Fonte: Nick Gordon, via Arkive.org.

Em sua temporada de fazer ninhos, as tartarugas-da-amazônia se comunicam debaixo d’água através de sons, a fim de que todos os cágados do grupo sincronizem suas atividades durante a época de nidificação4. A agregação de indivíduos diminui a chance de um predador capturá-los5, aumentando o sucesso reprodutivo do grupo. Além disso, a interação entre as fêmeas nos agregados pode permitir que elas obtenham informações sobre potenciais áreas para fazer seus ninhos (FIGURA 02), através do conhecimento dos movimentos e decisões de outras fêmeas6.

Jim Clare - Podocnemis expansa

Figura 02. Fêmea de Podocnemis expansa colocando seus ovos. Fonte: Jim Clare, via Arkive.org.

Ferrara et al. (2014) identificaram seis tipos de sons feitos pelas tartarugas-da-amazônia durante o período de nidificação, que se encaixaram nas seguintes categorias comportamentais: i) migração; ii) agregação em frente das praias de nidificação antes de saírem da água; iii) nidificação à noite; iv) espera na água sem haver nidificação ou após a nidificação; v) espera da chegada dos filhotes recém eclodidos (FIGURA 03). Os autores no final de seu artigo ressaltam que não sabem o significado exato dos sons que os cágados fazem, só sabem que eles fazem os sons quando estão fazendo diferentes atividades4.

Gerardo J. González - Podocnemis expansa

 Figura 03. Filhote de Podocnemis expansa. Fonte: Gerardo J. González, via Arkive.org.

Os autores presumem ainda que existem vocalizações que são usadas para estimular o nascimento e o deslocamento em grupo após o nascimento, já que foi visto que os filhotes vocalizam nos ovos e em diversos outros momentos. Também foi visto que as fêmeas vocalizam em resposta aos seus filhotes, e que ambos migram juntos pelo rio vocalizando em grandes grupos. Segundo os autores, esta é uma forma de proteger os filhotes de predadores e guiá-los aos habitats em que se alimentam4.

Já que esses cágados se comunicam em sons subaquáticos, qual será o impacto causado pelos barulhos dos humanos, principalmente os oriundos de embarcações motorizadas? Será que a formação dos grupos e a sua migração após o nascimento dos filhotes é afetada pelo barulho humano? Essas e muitas outras dúvidas ainda não possuem respostas.

Texto escrito por Thaís Abreu, bolsista de extensão do NUROF-UFC.

REFERÊNCIAS

1 VOGT, R. C.; FAGUNDES, C. K.; BATAUS, Y. S. L.; BALESTRA, R. A. M.; BATISTA, F. R. W.; UHLIG, V. M.; SILVEIRA, A. L.; BAGER, A.; BATISTELLA, A. M.; SOUZA, F. L.; DRUMMOND, G. M.; REIS, I. J.; BERNHARD, R.; MENDONÇA, S. H. S. T.; LUZ, V. L. F. 2015. Avaliação do Risco de Extinção de Podocnemis expansa (Schweigger, 1812) no Brasil. Processo de avaliação do risco de extinção da fauna brasileira. ICMBio. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/estado-de-conservacao/7431-repteis-podocnemis-expansa-tartaruga-da-amazonia2 >.

2 ALVES, R. R. N.; SANTANA, G. G. Use and commercialization of Podocnemis expansa (Schweiger 1812) (Testudines: Podocnemididae) for medicinal purposes in two communities in North of Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, 2008. Disponível em: <https://ethnobiomed.biomedcentral.com/track/pdf/10.1186/1746-4269-4-3 >.

3 Tortoise & Freshwater Turtle Specialist Group. Podocnemis expansa. The IUCN Red List of Threatened Species, 1996 (Errata publicada em 2016). Disponível em: <http://www.iucnredlist.org/details/17822/0 >.

4 FERRARA, C. R.; VOGT, R. C.; SOUSA-LIMA, R. S.; TARDIO, B. M. R.; BERNARDES, V. C. D. Sound Communication and Social Behavior in an Amazonian River Turtle (Podocnemis expansa). Herpetologica, v. 70, n. 2, p. 149-156, 2014. Disponível em: < http://www.bioone.org/doi/abs/10.1655/HERPETOLOGICA-D-13-00050R2 >.

5 HUGHES, D. A.; RICHARD, J. D. The nesting of the Pacific ridley turtle Lepidochelys olivacea on Playa Nancite, Costa Rica. Marine Biology, v. 24, p. 97-107, 1974. Disponível em: <https://link.springer.com/article/10.1007%2FBF00389343 >.

6 DOODY, J. S.; SIMS, R. A.; GEORGES, A. Gregarious Behavior of Nesting Turtles (Carettochelys insculpta) Does Not Reduce Nest Predation Risk. Copeia, v. 2003, n. 4, p. 894-898, 2003. Disponível em: <http://www.bioone.org/doi/10.1643/h203-012.1 >.

 

NOTÍCIA: Mais da metade das tartarugas marinhas comem plástico

Uma criatura branca está à deriva num vasto oceano. Uma tartaruga marinha nada rapidamente com suas nadadeiras em forma de remo em direção a essa água-viva. Infelizmente, ao abocanhar a sua presa descobre que ela é lixo – uma sacola de plástico no seu lar aquático. Tarde demais, a tartaruga já engoliu.

Essa é a dura realidade para 52% das tartarugas marinhas, de acordo com um estudo da University of Queensland, liderado pelo Dr. Qamar Schuyler, publicado na Global Change Biology.

A investigação foi feita utilizando modelos de previsão juntamente com a autópsia de tartarugas mortas. Usando também mapas das localizações das populações de tartarugas com a distribuição de plásticos no mar, os pesquisadores conseguiram montar um modelo sobre o risco de ingestão desses resíduos por tartarugas.

A ameaça de ingerir esses resíduos não causa apenas uma dor de estômago: comer plástico pode matar ou ferir seriamente as tartarugas, afetando seu trato gastrointestinal, bloqueando ou perfurando seu intestino ou ainda liberando toxinas químicas nos tecidos do animal.

As tartarugas estão nadando nos oceanos da Terra a mais de 100 milhões de anos. Esses répteis antigos agora precisam enfrentar, além dos seus predadores naturais, a caça, a destruição de habitat e claro, a poluição.

A estimativa é que 4 a 12 milhões de toneladas de plástico sejam despejados nos oceanos todos os anos.

Imagem de uma campanha. Crédito: Instituto EcoFaxina

Imagem de uma campanha. Crédito: Instituto EcoFaxina

Veja a notícia original em: IFLS

Referência:

1) Schuyler, Q. A., Wilcox, C., Townsend, K. A., Wedemeyer‐Strombel, K. R., Balazs, G., Sebille, E., & Hardesty, B. D. (2015). Risk analysis reveals global hotspots for marine debris ingestion by sea turtles. Global Change Biology.

NOTÍCIA: Descoberta tartaruga ancestral que pode explicar evolução do casco

Um fóssil de 240 milhões de anos pode ser um “elo perdido” na evolução das tartarugas, pois fica entre o Eunotosaurus da África do Sul (260 milhões de anos) e o Odontochelys da China (220 milhões de anos). Conhecido como Pappochelys rosinae ou “Tartaruga avô”, esse animal preenche uma lacuna no registro fóssil da época em que os ancestrais das tartarugas ainda não possuíam a característica que faz com que os membros desse grupo sejam facilmente identificados: seu casco. O estudo do achado, publicado na Nature, traz novas pistas sobre a evolução da carapaça protetora das tartarugas.

Fig.1. Reconstrução da tartaruga primitiva. Créditos: Rainer Schoch

Fig.1. Reconstrução da tartaruga primitiva. Créditos: Rainer Schoch

O Pappochelys (Fig. 1) era um pequeno réptil que parecia muito mais com uma iguana do que com uma tartaruga, mas o esqueleto (Fig. 2) mostra sem dúvidas traços de tartaruga. Além disso, o formato do crânio e as duas aberturas em ambos os lados dele indica que as tartarugas podem estar mais relacionadas com os lepidossauros (serpentes e lagartos, por exemplo) do que com os arcossauros (crocodilos, dinossauros, aves e etc.).

Fig. 2. Esqueleto da tartaruga primitiva. A parte amarela é correspondente ao casco das espécies atuais. Créditos: Rainer Schoch

Fig. 2. Esqueleto da tartaruga primitiva. A parte amarela é correspondente ao casco das espécies atuais. Créditos: Rainer Schoch

Um dos autores da pesquisa, Rainer Schoch, explica que embora essa evolução do casco das tartarugas tenha sido prevista pela pesquisa embrionária hoje, ela nunca tinha sido observada em fósseis, até esse estudo.

Fontes:

IFLS

NBC News

Referência:

Schoch, Rainer R., and Hans-Dieter Sues. “A Middle Triassic stem-turtle and the evolution of the turtle body plan.” Nature (2015).

Notícia: Lâmpadas LED reduzem a captura de tartarugas em redes de pesca

Investigação no México mostra como o uso destas lâmpadas podem reduzir a captura acidental de tartarugas marinhas sem ter impacto no valor comercial das pescas.

A  pesca acidental de alguns animais como tartarugas é um fator que  intensifica o declínio de populações que possuem um status vulnerável. Pesquisadores estão procurando desenvolver métodos que reduzam a quantidade de animais capturados involuntariamente nas redes de pesca.

As tartarugas marinhas acabam muitas vezes presas nas redes de pesca DR. Fonte: publico.pt

As tartarugas marinhas acabam muitas vezes presas nas redes de pesca DR. Fonte: publico.pt

John Wang, do Instituto Associado para a Investigação Marinha e Atmosférica, da Universidade do Havai (Estados Unidos), e sua equipe, desenvolveram uma técnica que utiliza a iluminação das redes utilizadas por pescadores com luz ultravioleta de lâmpadas LED. Isso ajuda a evitar que as tartarugas marinhas fiquem presas nas redes.

Para saber mais sobre o assunto acesse: www.publico.pt.

Notícia: Litoral cearense atrai tartarugas em busca de comida

De acordo com o coordenador do projeto Tamar, as praias cearenses são pouco utilizadas para a desova. No Bairro Serviluz, moradores relatam encalhes e filhotes que lutam para chegar ao mar.

Das sete espécies de tartaruga marinha que existem no mundo, cinco são encontradas no litoral brasileiro, a tartaruga de couro (Dermochelys coriacea), a cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga verde (Chelonia mydas), a de pente (Eretmochelys imbricata) e a oliva (Lepidochelys olivacea). Todas podem ser encontradas no litoral cearense, vindo em busca de alimentação, crescimento e descanso.

Segundo Eduardo Lima, coordenador do Projeto Tamar no Ceará, as tartarugas são atraídas pela grande quantidade de algas do mar cearense. A tartaruga verde, ou aruanã, é a mais comum no Ceará e costuma habitar águas rasas.

Foto de tartaruga verde ou aruanã (Chelonia mydas). Fonte: Tamar

Foto de tartaruga verde ou aruanã (Chelonia mydas). Fonte: Tamar

Estes quelônios deixam os locais de alimentação e crescimento para iniciar um novo ciclo de reprodução retornando as praias onde nasceram para desova. Ilhas da África são os locais mais escolhidos para desova, aqui no Ceará este evento é esporádico, segundo Eduardo “Aqui pode até ter sido local de muita desova no passado, mas a coleta exagerada dos ovos pode ter mudado este hábito”.

Bairro Serviluz, Fortaleza:

Moradores relatam que ocorrem desovas na praia do bairro, segundo Carlos Alexandre, coordenador da Associação Boca do Golfinho, cerca de apenas 5% dos filhotes que eclodem conseguem chegar ao mar. Além do lixo, a larga faixa de areia de até 200 metros na maré baixa consiste em obstáculos para os filhotes.

Algumas crianças costumam surfar na praia do bairro, que tem o mesmo nome da associação, elas ao encontrarem os filhotes de tartaruga tentam ajudá-las a chegar ao mar. Também há relatos de tartarugas encalhadas na praia do bairro, em agosto foi encontrada uma tartaruga morta que media 1,8 metro.

Quer conhecer mais sobre o Projeto Tamar? Acesse: www.tamar.org.br

Notícia sintetizada a partir de O Povo.

A origem mitológica das tartarugas – A ninfa Quelone

De acordo com a mitologia Greco-romana, as tartarugas que hoje conhecemos vieram ao mundo como uma forma de castigo à Quelone, uma ninfa miseravelmente preguiçosa.  Acompanhe abaixo a história.

Figura 1. Jovem de tartaruga cabeçuda (Caretta caretta). Fotografia de Daniel Passos.

Figura 1. Jovem de tartaruga cabeçuda (Caretta caretta). Fotografia de Daniel Passos.

Era casamento de Júpiter, o rei do universo, e Juno, a rainha dos céus. Todos haviam sido convidados para a grande festa no Olimpo. Na entrada do palácio, era feita a conferência dos convidados, com identificação de cada um dos que chegavam. Quando avisado da ausência de Quelone, Mercúrio, o deus dos pés ligeiros, apressou as sandálias aladas e foi ao encontro da ninfa, temendo que, se Juno descobrisse sua ausência, matasse-a. Quelone não sentia vontade de fazer nada e, embora houvesse cogitado algumas vezes ir ao casamento, desistiu todas elas ao se lembrar da trabalheira que daria se arrumar de maneira adequada e se deslocar até o Olimpo. Quando Mercúrio a encontrou, Quelone estava descansando. A ninfa deu algumas desculpas, até que, convencida, resolveu acompanhar Mercúrio. No entanto, Quelone insistia em atrasar a chegada dos dois. Temendo a reação de Juno caso notasse a sua ausência, Mercúrio resolveu ir à frente. Sozinha, Quelone sentou na estrada do arco-íris e adormeceu. Somente no dia seguinte, quando os convidados voltavam das bodas, Quelone se deu conta de que não havia conseguido ir à festa. Levantou-se assustada. Ensaiou algumas desculpas, mas resolveu voltar pra casa. Quando chegou, Mercúrio já a esperava.  Sem paciência para explicações, o deus pegou a ninfa pelos pés e a jogou dentro de um lago e, em seguida, lançou também sua casa. Foi o castigo de Quelone.  Agora, a ninfa tinha quatro patas e seu rosto havia ficado enrugado. Sua casa se transformou em uma carapaça, que era carregada em suas costas. E Quelone nunca havia sido tão lenta quanto agora! Havia sido transformada em uma tartaruga.

Figura 2. Trachemys sp. Fotografia de Daniel Passos.

Figura 2. Trachemys sp. Fotografia de Daniel Passos.

Figura 3. Jabuti. Fotografia de Luan Pinheiro.

Figura 3. Jabuti. Fotografia de Luan Pinheiro.

E assim a mitologia Greco-romana nos conta a história de Quelone, a ninfa preguiçosa que foi transformada em tartaruga. Como sabemos, o grupo dos quelônios abriga não somente as tartarugas (Figura 1), mas também os cágados e os jabutis (Figuras 2 e 3, respectivamente) (Leia mais em: Existe diferença entre tartaruga, cágado e jabuti?), que, como narra a mitologia, são largamente conhecidos pelo seu lento modo de locomoção. No entanto, embora sejam mais lentos que muitos outros animais (há registros de cágados movimentando-se a 0,27km/h), nem sempre os quelônios imprimem velocidades de deslocamento tão baixas. Para as tartarugas, por exemplo, há relatos de deslocamentos em velocidade de até 35km/h.

Por: Laís Feitosa Machado, colaboradora do Projeto NUROF-UFC nas Nuvens

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FRANCHINI, A.S.; SEGANFREDO, C. 2012. As melhores histórias da mitologia – Deuses, heróis, monstros e guerras da tradição Greco-romana. Volume 1. Porto Alegre: L&PM POCKET, 320p. McFARLAN, D. 1991. Guinness Book of Records 1992. New York: Facts on File, 320p.

POUGH, H. F.; JANIS, C. M.; HEISER, J. B. 2008. A vida dos vertebrados. 4ª ed. São Paulo: Atheneu, 684p.

REES, A.F.; JONY, M.; MARGARITOULIS, D.; GODLEY, B.J. 2008. Satellite tracking of a Green Turtle, Chelonia mydas, from Syria further highlights importance of North Africa for Mediterranean turtles. Zoology in the Middle East, p.49-54.