NUROF-UFC e o monitoramento de saúde da fauna da ARIE Matinha do Pici

O Campus do Pici da Universidade Federal do Ceará (Fortaleza, Ceará) é cercado por um fragmento de mata nativa que foi oficializado como unidade de conservação pela Lei Municipal nº 10.463 de 31 de março de 2016, hoje conhecida como “Área de Relevante Interesse Ecológico Matinha do Pici” (AMP). Possui uma área total de 42,62 hectares, contendo o Açude Santo Anastácio e uma vegetação litorânea adjacente denominada mata de tabuleiro. A AMP serve de refúgio para fauna e flora relictuais e caracteriza-se como um dos últimos remanescentes florestais na metrópole de Fortaleza. Embora estando inscrita dentro de um ambiente urbano, abriga uma fauna nativa relativamente diversa, com 30 espécies de invertebrados, 22 de peixes, 12 de anfíbios, 31 de répteis (14 de serpentes, 14 de lagartos, 3 de quelônios), 75 de aves, e 20 de mamíferos (1). Essa fauna sofre importantes impactos devido à intensa antropização representada pela construção da estrutura física da UFC e pelo crescimento de comunidades periféricas em seu entorno.

Animais da fauna livre da AMP. a) Sagüi (Callithrix jacchus); b) Jiboia (Boa constrictor)

O NUROF-UFC vem desempenhando importante papel no monitoramento de saúde e agravos à fauna da AMP, em especial aos répteis e anfíbios. O resgate de serpentes, lagartos e quelônios das áreas urbanas e recolocação na AMP se tornou frequente em nossa rotina. De 2017 a 2020, 233 animais foram resgatados pela nossa equipe. Desses, 78,4% foram examinados e devolvidos à AMP; 11,6% foram encontrados mortos; 3,0% tiveram atenção veterinária mas foram a óbito, e 2,6% foram submetidos à eutanásia devido à impossibilidade de tratamento (2).

Por conta dessa atuação, vários trabalhos de pesquisa vem sendo realizados, no formato de resumos científicos, monografias de conclusão de curso e artigos especializados. Um dos destaques dessa produção foi o trabalho de conclusão de curso do biólogo e mestrando Bruno Guilhon, que contabilizou a fauna atropelada dentro do Campus ao longo de 12 meses, registrando um total de 328 animais, distribuídos em 32 espécies e 22 famílias, sendo os anfíbios a maior amostragem (58%) (3). Outro foi o artigo em parceria com o biólogo e doutorando Rafael Ramos sobre exames pós-morte de répteis vítimas de trauma entre 2010 e 2020, no qual 34 répteis foram examinados e as causas de morte predominantes foram a predação por animais domésticos, seguidas por atropelamentos e predação por humanos (4). Recentemente, o trabalho de conclusão de curso do médico veterinário Renan Lima avaliou a saúde de uma amostra de anfíbios anuros da AMP, verificando alterações clínicas e hematológicas ligadas a doenças infecciosas possivelmente correlacionadas ao desequilíbrio ambiental no habitat desses indivíduos (5).

Coleta de sangue para avaliação de saúde de anfíbios da AMP (2022).

A atuação da equipe do NUROF-UFC está gerando dados importantes que devem contribuir na elaboração do plano de manejo da AMP. Espera-se com isso que futuramente medidas concretas possam ser implementadas na proteção desta fauna e na preservação ambiental da área. Para saber mais sobre os casos investigados, acesse a bibliografia a seguir.

Autora: Roberta da Rocha Braga, médica veterinária NUROF-UFC

Referência bibliográfica

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC). Proposta de Plano de Manejo para a ARIE Matinha do Pici 2022.

NÚCLEO REGIONAL DE OFIOLOGIA (NUROF-UFC). Relatórios de necrópsia de fauna silvestre 2010-2020.

GUILHON, Bruno Ferreira. Fauna invisível: monitoramento da fauna atropelada no Campus do Pici. 2019. 28 f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Ciências Biológicas) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2019. Disponível em http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/48364.

BRAGA, R.R. RAMOS, A.R.L Traumatized Reptiles: A Retrospective Study of Wild Reptiles Examined in Northeastern Brazil. Acta Scientific Veterinary Sciences 3.10 (2021): 28-32. Disponível em https://actascientific.com/ASVS/pdf/ASVS-03-0218.pdf.

LIMA, C.R.S Avaliação clínica e hematológica de anuros de vida livre como ferramenta de biomonitoramento. 2022. 25f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Medicina Veterinária) – Unifametro, Fortaleza, 2022. Disponível em breve no https://repositorio.unifametro.edu.br/