Lagartos brasileiros: peçonhentos não, mas nem tão inofensivos!

Sendo historicamente responsável pela 3ª postagem mais acessada do blog do NUROF-UFC e figurando entre os 10 termos de busca pelos quais mais visitam nosso blog, a temática “lagartos peçonhentos/venenosos” é indubitavelmente curiosa e importante de ser discutida.

Conforme visto em Lagartos peçonhentos (Lagartos venenosos no Brasil?), NÃO existe nenhuma espécie de lagarto naturalmente estabelecida em território nacional que produza toxinas em seu corpo (ou seja, venenosa), ou muito menos que seja capaz de inocular veneno em presas ou predadores (isto é, peçonhenta). Apesar disto, sou frequentemente indagado acerca dos perigos potenciais dos lagartos aos seres humanos. Como resposta, informo que, em geral, os lagartos brasileiros não provocam riscos relevantes, mas que são dotados de ferramentas naturais e estratégias defensivas para se proteger de ameaças.

Figura 1. Indivíduo adulto de Tupinambis merianae do plantel NUROF-UFC. Fotografia de Daniel Passos. Faça-nos uma visita para conhecer nosso Tejo!

Entre as táticas defensivas de lagartos, a mais primária é evitar ser detectado por seu predador, através da combinação de comportamentos crípticos, como camuflagem, coloração disruptiva e imobilidade. Após ser encontrado por um predador, o comportamento mais amplamente executado por lagartos é a fuga, na tentativa de escapar da ameaça. Entretanto, algumas vezes o lagarto está encurralado e, nestes casos, alguns comportamentos de intimidação podem ser exibidos no sentido de dissuadir seu potencial predador, como abrir a boca, inflar o corpo e agitar a cauda (Martins, 1996). Mesmo após todas estas tentativas de defesa, o predador pode persistir em sua investida e então, os lagartos podem se utilizar de ferramentas para atacar e agredir seu oponente. Na perspectiva dos lagartos, existem três principais tipos de dispositivos de ataque (neste caso para se defender): a cauda, as garras e a boca.

Neste âmbito, apresento os possíveis, embora pequenos, riscos da aproximação e manipulação de lagartos por leigos. Em especial, me detenho a duas espécies de grande porte que ocorrem no Brasil, a Iguana-verde (Iguana iguana) e o Tejo (Tupinambis merianae), ambas podendo atingir mais de um metro e meio de comprimento.

Figura 2. Datealhe da cabeça de Tupinambis merianae.

Obs: Vale frisar que as duas espécies citadas algumas vezes são criadas domesticamente como pets e podem tornar-se bastante dóceis, fornecendo pouco ou nenhum risco aos seus proprietários.

A longa e robusta cauda das Iguanas e dos Tejos, mecanicamente utilizada para locomoção e equilíbrio, constitui um tipo de arma de longo alcance que evita a aproximação exagerada do potencial predador. Ao ser agitada bruscamente, a cauda pode ser usada como um “chicote” para golpear o adversário, causando bastante dor no local atingido.

As fortes garras afiadas, usadas pelas Iguanas para se fixar e se locomover nas árvores e pelos Tejos para forragear e escavar tocas, quando os lagartos são manipulados, podem atingir a pele, causando danos físicos e provocando hemorragias locais.

A boca, ornamentada com fortes dentes, é pouco utilizada com fins defensivos por Iguanas, mas é uma das mais importantes armas dos Tejos. No caso dos Tejos, sua dentição é caracterizada pela heterodontia (presença de vários tipos de dentes), podendo desempenhar funções de corte, perfuração e esmagamento (Brizuela & Albino, 2010).

Recentemente, foi publicado um caso de mordida de Tejo em humanos. A vítima levou uma mordida no dedo indicador da mão direita ao tentar separar a briga entre seu cão e um Tejo com cerca de 1,5 m de comprimento. A lesão provocou perda de tecido, fratura óssea na falange distal, intensa hemorragia, inflamação local e dor intensa por mais de 10 horas. A intensidade da injúria foi tamanha que necessitou de intervenção cirúrgica, com a aplicação de enxerto cutâneo para reabilitação funcional e benefícios estéticos ao paciente (Haddad et al, 2008).

Figura 3. Crânio de Tupinambis merianae. Fotografia de Daniel Passos.

Portanto, embora a maioria dos lagartos cause pouco ou nenhum risco à saúde dos seres humanos, algumas espécies de grande porte merecem maior atenção. A lida com animais selvagens exige conhecimento biológico, prudência e responsabilidade, assim espero que esta postagem sirva como um alerta aos leitores que por ventura desejem se aproximar demais ou até manipular grandes lagartos como as Iguanas e os Tejos. Estejam cientes: Lagartos brasileiros: peçonhentos não, mas nem tão inofensivos!

Por: Daniel Passos, membro do NUROF-UFC

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRIZUELA, S. & ALBINO, A. M.. 2010. Variaciones dentarias en Tupinambis merianae (Squamata:Teiidae). Cuadernos de Herpetología, 24(1): 5-16.

HADDAD JR., V.; DUARTE, M. R.; GARRONE NETO, D. 2008. Tegu (Teiu) Bite: Report of Human Injury Caused by a Teiidae Lizard. Wilderness and Environmental Medicine, 19: 111-113.

 MARTINS, M. 1996. Defensive tactics in lizards and snakes: the potential contribution of the neotropical fauna. Anais do XIV Encontro Anual de Etologia, 14:185-199.

Chelus fimbriatus (mata-mata)

Chelus fimbriatus (mata-mata) Foto: Hugo Fernandes-Ferreira

Chelus fimbriatus (mata-mata) – Quelônio ocorrente na Amazônia, de hábito aquático. É bem difícil de ser encontrado, pois além de viver em ambientes lodosos e barrentos, seu casco, cabeça e membros se confundem com folhas caídas e pedras e, ainda por cima, ficam repletas de algas. Possui a região nasal protraída para cima, como um snorkel. É ovíparo, se alimenta de pequenos peixes, crustáceos e insetos, através de botes muito rápidos. Seu pescoço, maior do que a coluna vertebral, pode ser esticado para muito além da carapaça.

Por: Hugo Fernandes-Ferreira, pesquisador colaborador do NUROF-UFC.

Agende uma visita e traga a sua turma para conhecer o NUROF-UFC!

O Núcleo Regional de Ofiologia da Universidade Federal do Ceará (NUROF-UFC) através de dos seus projetos de Educação Ambiental recebe visitas desde 2005, centenas de pessoas, dentre alunos de escolas, famílias e outros, já visitaram o Nurof-UFC e aprenderam um pouco mais sobre a biologia das serpentes,  a prevenção contra acidentes ofídicos e as diversas crendices populares que envolvem esses magníficos animais.  A visita consiste em uma palestra e uma visita guiada a exposição do serpentário do Nurof-UFC.

Jiboia (Boa constrictor) presente na exposição do Nurof-UFC. Foto: Luan Pinheiro

Jiboia (Boa constrictor) presente na exposição do Nurof-UFC. Foto: Luan Pinheiro

O que fazer para agendar uma visita?

Entre em contato conosco, de segunda a sexta das 8h às 18h, para agendamento através do número (85)3366-9801 ou através do e-mail nurofextensao@gmail.com, lembrando que as visitas devem ser marcadas com no mínimo uma semana de antecedência. São aceitos grupos de 10 a 50 pessoas.

Aguardamos sua visita!

Notícia: Cascavel nascida em BH recebe nome de ‘Dora’ em enquete popular

Ela e mais dois irmãos nasceram de acasalamento ‘surpreendente’.
Nesta segunda, enquete será aberta para escolha dos nomes dos machos.

A Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte, divulgou que a cascavel fêmea nascida de um casal de subespécies da cobra já em idade avançada se chamará Dora. O nome, que significa ‘presente’, foi escolhido por 40% dos votos da enquete aberta ao público. As outras opções eram Ofélia, que quer dizer ‘serpente’, e Medusa, que é feiticeira em grego.

Cobras têm cerca de 30 anos de idade (Foto: Divulgação/Funed)

Cobras têm cerca de 30 anos de idade (Foto: Divulgação/Funed)

Dora é uma dos três filhotes cujos nascimentos surpreenderam os pesquisadores da Funed. Eles nasceram do acasalamento inesperado de um casal de 30 anos, uma idade muito avançada para a espécie, que vive em média 20 anos. “As cobras estão em idade avançada de reprodução e ainda fomos surpreendidos pela coloração diferenciada e rara dos filhotes”.

Veja a notícia completa em:  G1 Minas Gerais

Nota do Blog do Nurof:

O Nurof-UFC conta com exemplares vivos de cascavel em sua exposição permanente. Agende já uma visita á exposição do NUROF-UFC através do telefone (85) 33669801 e traga grupos de 20 a 40 pessoas para verem a exposição de serpentes e outros répteis e assistirem a uma palestra sobre a biologia das serpentes e curiosidades!


Notícia: Moradora encontra filhote de jacaré no banheiro de casa em Alegre, ES

Moradora tomou um grande susto ao encontrar o animal.
Jacaré foi recolhido pela polícia e solto às margens do rio Itabapoana.

Um filhote de jacaré de apenas 58 centímetros foi encontrado por uma moradora dentro do banheiro de sua casa em Alegre, no Sul do Espírito Santo. Ela acionou a Polícia Militar Ambiental, que recolheu o animal na tarde deste sábado (10).

Segundo a polícia, a moradora reside em uma chácara às margens do rio Itapemirim e ficou muito assustada ao encontrar o animal no banheiro da residência. Ela afirmou aos policiais que mora há 30 anos no local e nunca havia encontrado um jacaré naquela região.

Após ser recolhido, o animal foi levado para o Parque Municipal Ênio Fazolo, em Guaçuí, onde foi solto nas margens do rio Itabapoana. O parque fica localizado na rodovia ES-484, próximo ao reservatório da Usina Hidrelétrica de Rosal, e possui ambiente favorável para vida e reprodução de diversas espécies da fauna silvestre nativa.

Animal foi solto às margens do rio Itabapoana. (Foto: Divulgação/Polícia Ambiental)

Fonte: G1 Espírito Santo

Nota do Blog do Nurof: Recentemente, novembro de 2011, outro jacaré, de tamanho bem maior que o filhote mostrado acima, também foi encontrado em área urbana no Espírito Santo, como podemos ver na seguinte notícia: Jácaré é encontrado dentro de loja de veículos da Grande Vitória. Eventos como esse nos permitem questionar: quem na verdade está invadindo o espaço de quem?  E vocês, o que acham?

Herpetólogo pesquisador do Museu Nacional do RJ ganha prêmio internacional em 2011

Embora com atraso não poderíamos deixar de tratar de um assunto que é de dar orgulho à todos herpetólogos ou entusiastas brasileiros. Em 2011 o Professor Dr. Paulo Passos, especialista em taxonomia de serpentes do Museu Nacional do Rio de Janeiro ganhou o prêmio Joseph B. Slowinski concedido pelo “The Center for North American Herpetology” pelo trabalho TAXONOMIC REVISION OF THE BRAZILIAN ATLANTIC FOREST ATRACTUS (REPTILIA: SERPENTES: DIPSADIDAE) considerado o trabalho mais distinto publicado sobre sistemática de serpentes no mundo em 2010.

Parabéns Professor! Que venham outros prêmios!

Novo recorde de visitas ao Blog!

Caros leitores, as estatísticas podem ser modestas, mas este recorde de 8.000 visualizações em fevereiro muito nos orgulha!

Agradecemos à todos vocês!!
🙂

Abraços,