A Cobra-Cipó, Oxybelis aeneus (Wagler 1824) (Serpentes, Colubridae), é uma serpente arborícola, de coloração amarronzada, longa e delgada, características que a tornam bem semelhante a um galho seco, fazendo jus a seu nome popular (Fig. 1). Reforçando as características de um cipó, esse animal tem o comportamento de ficar parado e suspenso entre os galhos das árvores e se balançando com o vento que bate em seu corpo, o que lhe permite ficar bem camuflada a espera de uma presa desatenta. Sua alimentação é composta principalmente por lagartos, mas também pode comer sapos e pássaros (Mesquita et al. 2012; Keiser 1967).
Figura 1. Detalhe do corpo delgado e da coloração amarronzada da Cobra-Cipó (Oxybelis aeneus). Fotografia de Paulo Mesquita.
A cobra-cipó é uma serpente bastante comum onde ocorre e tem ampla distribuição geográfica, ocorrendo desde o Arizona, nos EUA, até o sudoeste do Brasil (Goldberg 1998). Apesar de ser encontrada durante todo o ano, ela é mais abundante no período seco, quando as temperaturas médias são maiores e as chuvas mais escassas (Mesquita et al. 2012; Brown & Shine 2002). Essa serpente é diurna, com maior intensidade de atividade entre os 31°C e 35°C. Durante seu período de atividade, esses animais usam galhos mais baixos e mais lisos para forragear, trocando de preferência durante a noite, onde preferem descansar em galhos mais altos (provavelmente para aproveitar os primeiros raios de sol da manhã para se aquecer) e mais espinhosos (que conferem maior proteção contra predadores, evitando ataques-surpresa durante seu sono) (Mesquita et al. 2012).
Fêmeas dessa espécie são maiores que os machos, o que pode ser resultado da pressão seletiva de carregar os ovos, nas fêmeas, força essa inexistente nos machos (Mesquita et al. 2010b). Visto que as mamães dessa espécie podem produzir até nove ovos por ninhada (Mesquita et al. 2010a) dá pra imaginar mesmo porque as fêmeas são maiores!
Figura 2. Cobra-Cipó (Oxybelis aeneus) exibindo comportamento de intimidação (boca aberta e palato preto). Fotografia de Daniel Passos.
Algumas histórias e crenças populares cercam esse animal. Uma delas diz que se você for mordido por uma Cobra-Cipó irá morrerá seco e esguio igual a ela! Com certeza uma crença muito exagerada para uma serpente que não é peçonhenta* e não representa perigo aos humanos. Mas talvez essa lenda tenha surgido por medo de sua boca muito escura e grande, a qual ela abre quando se sente ameaçada na tentativa de afugentar seus predadores (Fig. 2). O fato é que essa é uma das serpentes mais abundantes que pode ser encontrada nas Caatingas e, pelo menos em minha opinião, também uma das mais bonitas.
*Apesar de ser considerada não peçonhenta, a Cobra-cipó apresenta dentição opistóglifa e toxinas que são usadas na captura de suas presas (Vanzolini et al, 1980).
Por: Castiele Holanda Bezerra
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Brown, G.P. & Shine, R. 2002. The influence of weather conditions on activity of tropical snakes. Austral Ecology, 27: 596-605.
Goldberg, S.R. 1998. Reproduction in the Mexican vine snake Oxybelis aeneus (Serpentes: Colubridae). Texas Journal of Science, 50(1): 51-56.
Keiser, E.D. 1967. A monographic study of the Neotropical Vine Snake, Oxybelis aeneus (Wagler, 1824). Ph.D. (dissertation), Louisiana State University, 157 pp.
Mesquita, P.C.M.D., Borges-Leite,M.J., Borges-Nojosa, D.M. & Passos, D.C. 2010a. Oxybelis aeneus (Brown Vinesnake) reproduction. Herpetol. Rev. 41: 346.
Mesquita, P.C.M.D., Borges-Nojosa, D.M. & Bezerra, C.H. 2010b. Dimorfismo sexual na “Cobra-Cipó” Oxybelis aeneus (Serpentes, Colubridae) no Estado do Ceará, Brasil. Biotemas, 23(4): 65-69.
Mesquita, P.C.M.D., Borges-Nojosa, D.M., Passos, D.C. & Bezerra, C.H. 2012. Activity patterns of the Brown Vine Snake Oxybelis aeneus (Wagler, 1824) (Serpentes, Colubridae) in the Brazilian semiarid. Animal Biology, 62: 289-299.
Vanzolini, P. E., Ramos-Costa, A. M. M. & Vitt, L. J. 1980. Répteis das Caatingas. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro.
Filed under: SERPENTES | 1 Comment »