Os cágados Podocnemis expansa (FIGURA 01), chamados de Tartaruga-da-Amazônia, são uma espécie de quelônios quase ameaçada de extinção no Brasil1, por conta da caça para diversos fins, como o medicinal2, por exemplo. Apesar disso, a espécie se encontra em menor perigo de extinção nos outros países da América Latina em que também está presente, como Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela3.
Em sua temporada de fazer ninhos, as tartarugas-da-amazônia se comunicam debaixo d’água através de sons, a fim de que todos os cágados do grupo sincronizem suas atividades durante a época de nidificação4. A agregação de indivíduos diminui a chance de um predador capturá-los5, aumentando o sucesso reprodutivo do grupo. Além disso, a interação entre as fêmeas nos agregados pode permitir que elas obtenham informações sobre potenciais áreas para fazer seus ninhos (FIGURA 02), através do conhecimento dos movimentos e decisões de outras fêmeas6.
Ferrara et al. (2014) identificaram seis tipos de sons feitos pelas tartarugas-da-amazônia durante o período de nidificação, que se encaixaram nas seguintes categorias comportamentais: i) migração; ii) agregação em frente das praias de nidificação antes de saírem da água; iii) nidificação à noite; iv) espera na água sem haver nidificação ou após a nidificação; v) espera da chegada dos filhotes recém eclodidos (FIGURA 03). Os autores no final de seu artigo ressaltam que não sabem o significado exato dos sons que os cágados fazem, só sabem que eles fazem os sons quando estão fazendo diferentes atividades4.
Os autores presumem ainda que existem vocalizações que são usadas para estimular o nascimento e o deslocamento em grupo após o nascimento, já que foi visto que os filhotes vocalizam nos ovos e em diversos outros momentos. Também foi visto que as fêmeas vocalizam em resposta aos seus filhotes, e que ambos migram juntos pelo rio vocalizando em grandes grupos. Segundo os autores, esta é uma forma de proteger os filhotes de predadores e guiá-los aos habitats em que se alimentam4.
Já que esses cágados se comunicam em sons subaquáticos, qual será o impacto causado pelos barulhos dos humanos, principalmente os oriundos de embarcações motorizadas? Será que a formação dos grupos e a sua migração após o nascimento dos filhotes é afetada pelo barulho humano? Essas e muitas outras dúvidas ainda não possuem respostas.
Texto escrito por Thaís Abreu, bolsista de extensão do NUROF-UFC.
REFERÊNCIAS
1 VOGT, R. C.; FAGUNDES, C. K.; BATAUS, Y. S. L.; BALESTRA, R. A. M.; BATISTA, F. R. W.; UHLIG, V. M.; SILVEIRA, A. L.; BAGER, A.; BATISTELLA, A. M.; SOUZA, F. L.; DRUMMOND, G. M.; REIS, I. J.; BERNHARD, R.; MENDONÇA, S. H. S. T.; LUZ, V. L. F. 2015. Avaliação do Risco de Extinção de Podocnemis expansa (Schweigger, 1812) no Brasil. Processo de avaliação do risco de extinção da fauna brasileira. ICMBio. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/estado-de-conservacao/7431-repteis-podocnemis-expansa-tartaruga-da-amazonia2 >.
2 ALVES, R. R. N.; SANTANA, G. G. Use and commercialization of Podocnemis expansa (Schweiger 1812) (Testudines: Podocnemididae) for medicinal purposes in two communities in North of Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, 2008. Disponível em: <https://ethnobiomed.biomedcentral.com/track/pdf/10.1186/1746-4269-4-3 >.
3 Tortoise & Freshwater Turtle Specialist Group. Podocnemis expansa. The IUCN Red List of Threatened Species, 1996 (Errata publicada em 2016). Disponível em: <http://www.iucnredlist.org/details/17822/0 >.
4 FERRARA, C. R.; VOGT, R. C.; SOUSA-LIMA, R. S.; TARDIO, B. M. R.; BERNARDES, V. C. D. Sound Communication and Social Behavior in an Amazonian River Turtle (Podocnemis expansa). Herpetologica, v. 70, n. 2, p. 149-156, 2014. Disponível em: < http://www.bioone.org/doi/abs/10.1655/HERPETOLOGICA-D-13-00050R2 >.
5 HUGHES, D. A.; RICHARD, J. D. The nesting of the Pacific ridley turtle Lepidochelys olivacea on Playa Nancite, Costa Rica. Marine Biology, v. 24, p. 97-107, 1974. Disponível em: <https://link.springer.com/article/10.1007%2FBF00389343 >.
6 DOODY, J. S.; SIMS, R. A.; GEORGES, A. Gregarious Behavior of Nesting Turtles (Carettochelys insculpta) Does Not Reduce Nest Predation Risk. Copeia, v. 2003, n. 4, p. 894-898, 2003. Disponível em: <http://www.bioone.org/doi/10.1643/h203-012.1 >.
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