Conheça o Proceratophrys ararype, espécie endêmica da Chapada do Araripe

Muitas espécies de animais já foram descobertas e descritas por meio de aulas e/ou expedições de campo, e dessa vez não foi diferente. Grupos das Universidades Federais do Rio Grande do Norte (UFRN), de Pernambuco (UFPE) e do Cariri (UFCA) identificaram uma nova espécie de anfíbio denominado Proceratophrys ararype, encontrado, como o nome sugere, na Chapada do Araripe, Ceará (MÂNGIA et al., 2018).

O sapinho (Figura 1) pertence ao Gênero Proceratophrys (Amphibia: Anura: Odontophrynidae), é endêmico da região e foi oficialmente considerado uma nova espécie em 2018 (MÂNGIA et al., 2018). Dentre algumas características pode-se citar a presença de verrugas não pontiagudas distribuídas pela superfície corporal, a vocalização, o tamanho de, aproximadamente, 3 a 5 centímetros e a região ventral de coloração creme com manchas marrons escuras na região gular, peito e barriga (MÂNGIA et al., 2018).

20200608_193348_0000
Figura 1: Proceratophrys ararype. Fonte: Robson Ávila

Outros traços distinguíveis do sapinho é o fato da cabeça ser mais larga do que comprida, o focinho representar quase metade do tamanho da cabeça e ser arredondado dependendo do perfil em que é observado (MÂNGIA et al., 2018). Além disso, segundo os autores, ele possui narinas proeminentes com cristas com pequenos tubérculos, a região dorsal é cinza apresentando manchas marrons variadas, parecendo folhas mortas e as verrugas são de tamanhos e formas diferentes. Ele também possui duas faixas marrons que vão do olho até o lábio superior e se reproduz e vive nos riachos de água corrente (MÂNGIA et al., 2018).

De acordo com a morfologia externa e análise do DNA, o sapinho apresenta características familiares aos sapos amazônicos, evidenciando que a Floresta Amazônica já foi conectada a Chapada do Araripe (MÂNGIA et al., 2018). Os autores sugerem que P. ararype surgiu a partir de uma especiação de Proceratophrys concavitympanum que pode ter se isolado em remanescentes florestais na chapada, adquirindo novas características devido a sua adaptação a vegetação semiárida da Caatinga.

Esses remanescentes são os chamados Brejos de Altitudes que consistem em áreas de floresta tropical no Nordeste brasileiro cercado por vegetação semiárida da Caatinga (ANDRADE-LIMA, 1982). Os Platôs de Baturité, Borborema, Maranguape e Ibiapaba são outras áreas que apresentam Brejos de Altitude (ANDRADE-LIMA, 1982). Devido às características locais, esses remanescentes florestais são áreas de grande especiação e endemismo (Werneck et al., 2011 e PORTO et al., 2004). Outras espécies de anfíbios endêmicas encontradas nos Brejos de Altitude são: Rhinella casconi, Adelophryne baturitensis e A. maranguapensis (HOOGMOED et al., 1994; CASSIANO-LIMA et al, 2011; ROBERTO et al. 2014).

Apesar de descoberto recentemente, o sapinho pode entrar para a lista de animais ameaçados logo, visto que, o seu habitat é afetado fortemente por ações antrópicas como o plantio de árvores exóticas, desmatamento e desvio de água para uso na agricultura (MÂNGIA et al., 2018). Essas são algumas das principais ameaças para os Brejos de Altitude e para as fontes de água locais (LINHARES et al., 2010), prejudicando assim a reprodução e ocorrência do P. ararype (MÂNGIA et al., 2018). Sendo assim, é de fundamental importância a conservação desses remanescentes florestais para a sobrevivência em longo prazo de muitas espécies (MÂNGIA et al., 2018).

Para mais informações a respeito do P. ararype consultar o artigo: A New Species of Proceratophrys (Amphibia: Anura: Odontophrynidae) from the Araripe Plateau, Ceara´ State, Northeastern Brazil.

Autora: Alyne Martins



Referências

ANDRADE-LIMA, D. 1982. Present-day forest refuges in northeastern Brazil. Pp. 245–251 in Biological Diversification in the Tropics (G.T. Prance, ed.). Columbia University Press, USA.

CASSIANO-LIMA, Daniel et al. The reproductive mode of Adelophryne maranguapensis Hoogmoed, Borges & Cascon, 1994,(Anura, Eleutherodactylidae) an endemic and threatened species from Atlantic Forest remnants in northern Brazil. North-Western Journal of Zoology, v. 7, n. 1, 2011. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Diva_Borges-Nojosa/publication/293175952_The_reproductive_mode_of_Adelophryne_maranguapensis_Hoogmoed_Borges_Cascon_1994_Anura_Eleutherodactylidae_an_endemic_and_threatened_species_from_Atlantic_Forest_remnants_in_northern_Brazil/links/56b66dda08ae44bb3307a9ff.pdf. Acesso em: 08 de jun de 2020.

HOOGMOED, MS et al. Três novas espécies do gênero Adelophryne (Amphibia: Anura: Leptodactylidae) do nordeste do Brasil, com observações sobre as demais espécies do gênero. Zoologische Mededelingen , v. 68, n. 24, p. 271-300, 1994.

MÂNGIA, Sarah et al. A New Species of Proceratophrys (Amphibia: Anura: Odontophrynidae) from the Araripe Plateau, Ceara´ State, Northeastern Brazil. Herpetologica, 74(3), 255-268.

LINHARES, Karina Vieiralves et al. Nest support plants of the Araripe Manakin Antilophia bokermanni, a critically endangered endemic bird from Ceará, Brazil. Cotinga, v. 32, n. 1, p. 121-125, 2010.

PORTO, Kátia C. et al. Brejos de altitude em Pernambuco e Paraíba história natural, ecologia e conservação. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004. Disponível em: http://www.terrabrasilis.org.br/ecotecadigital/pdf/brejos-de-altitude-em-pernambuco-e-paraiba-.pdf. Acesso em: 08 de jun de 2020.

ROBERTO, Igor Joventino et al. A new species of Rhinella (Anura: Bufonidae) from northeastern Brazil. South American Journal of Herpetology, v. 9, n. 3, p. 190-199, 2014. Disponível em: https://bioone.org/journals/South-American-Journal-of-Herpetology/volume-9/issue-3/SAJH-D-13-00028.1/A-New-Species-of-Rhinella-Anura–Bufonidae-from-Northeastern/10.2994/SAJH-D-13-00028.1.full?casa_token=bt5PJizBjyoAAAAA%3aWBsOYs3E1oO9NgMsm-y-H5qP08MzetXUbAQo_FDpgtM5mtNfPouh9YPrUcaSCmL5uK0zUFtyUQ. Acesso em: 08 de jun de 2020.

WERNECK, Fernanda P. et al. Revisiting the historical distribution of Seasonally Dry Tropical Forests: new insights based on palaeodistribution modelling and palynological evidencegeb. Global Ecology and Biogeography, v. 20, n. 2, p. 272-288, 2011.