Paramyxovírus em serpentes

Você já tomou a sua vacina tríplice viral?

Ela protege contra Sarampo, Caxumba e Rubéola. As duas primeiras doenças são causadas por PARAMYXOVÍRUS.

Os Paramyxovírus (myxo = afinidade por MUCOSAS) são vírus pleomórficos, envelopados, com nucleocapsídeo helicoidal e RNA fita simples de sentido negativo. São considerados vírus grandes, medindo 150 nm de diâmetro ou mais. Replicam-se no citoplasma das células-alvo, com afinidade por tecidos linforreticulares e sistema respiratório. O vírus age bloqueando as vias da imunidade inata, como as vias do sistema complemento, a produção de interferons, e a maturação de células dendríticas pulmonares (o que também impede o desenvolvimento de uma imunidade adaptativa adequada). Sua ação citolítica e antinflamatória destrói as células-alvo com menor interferência dos mecanismos de defesa. Causam doenças agudas caracterizadas por sinais clínicos que dependem do sistema afetado, e muitas vezes são infecções generalizadas (1,2).  Causam sarampo em humanos, peste bovina, Doença de Newcastle em aves, cinomose em cães e doença sistêmica letal em cetáceos.

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Figura 1. Vírus da peste bovina. Fonte: Wikipedia

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Figura 2. Sarampo. Fonte: OMS

Em herpetofauna, o paramyxovírus ofídio (OPMV) acomete várias famílias de serpentes, com destaque para a família Viperidae.

Paramyxovírus em Serpentes

O primeiro registro de paramixovirose em serpentes foi em um serpentário suíço, no ano de 1972. Desde então, mais de 50 relatos de caso foram publicados (3).

As principais manifestações clínicas são secreção nasal, respiração pela boca com formação de dilatação submandibular (“papo”), debris orais e estertores respiratórios. Os casos crônicos podem evoluir para sinais neurológicos, como desequilíbrio postural, diminuição do reflexo de endireitamento, “olhar estrelas” (postura ortopneica) e paralisia. Podem ocorrer quadros assintomáticos com morte súbita. Os achados de necrópsia frequentemente incluem pneumonia caseosa com fibrose intersticial, hipertrofia do epitélio respiratório e inclusões eosinofílicas intracitoplasmáticas (4).

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Figura 3. Serpentes com sinais clínicos de doença respiratória viral. A) Secreção mucosa na cavidade oral. B) Respiração pela boca. (6)

Em 1997, um surto de doença não identificada, levou a óbito cerca de 400 cascaveis (Crotalus durissus terrificus) no Criadouro Científico do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (CEVAP), unidade complementar da UNESP (SP). Na ocasião, suspeitava-se de um doença contagiosa, mas a investigação somente foi realizada alguns anos depois, gerando uma tese de doutorado. Durante a pesquisa posterior, 24/51 serpentes foram a óbito, sendo que 23 (95,8%) foram positivas para OPMV, utilizando-se a técnica do Nested PCR em macerados de pulmões coletados à necrópsia. Os achados de necrópsia revelaram traqueia e pulmões com focos de hemorragia e secreções com debris caseosos. Algumas pneumonias foram complicadas pela infecção oportunista por Mycoplasma sp. e bactérias gram-negativas, como Salmonella sp. e Pseudomonas sp.. (5).

Algumas tentativas de se desenvolver vacinas com vírus inativados para o OPMV foram realizadas nos anos 1990, porém nenhuma concentração significante e duradoura de anticorpos específicos foi observada na ocasião (3).

Autora: Roberta da Rocha Braga



Referências

  1. Quinn, P.J. et al. Paramyxoviridae. In: Microbiologia Veterinária e Doenças Infecciosas. Porto Alegre: ArtMed, 2005.
  2. Parks, G. D., & Alexander-Miller, M. A. (2013). Paramyxovirus activation and inhibition of innate immune responses. Journal of molecular biology, 425(24), 4872–4892.
  3. Hyndman, T.H., Shilton, C.M., Marschang, R.E. Paramyxoviruses in reptiles: a review. Vet Microbiol. 2013;165(3-4):200‐213.
  4. Ritchie, B.(2006). Virology. In: Mader, D.R. Reptile Medicine and Surgery. 2nd ed. Saint Louis: Saunders, 2006. pp. 391-417.
  5. Nogueira, M.F. Estudo de Paramyxovírus, Mycoplasma e bacilos gram-negativos no trato respiratório de serpentes Crotalus durissus terrificus. Tese (Doutorado) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Botucatu, Universidade Estadual Paulista, 2004. 200p. Disponível em https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/101309/ nogueira_mf_dr_botfmvz.pdf? sequence=1&isAllowed=y. Acesso em 15 jul. 2011.
  6. Laura L. Hoon-Hanks, Marylee L. Layton, Robert J. Ossiboff, John S.L. Parker, Edward J. Dubovi, Mark D. Stenglein, Respiratory disease in ball pythons (Python regius) experimentally infected with ball python nidovirus,Virology, Volume 517, 2018, Pages 77-87. Under a Creative Commons License –  CC by 4.0