Apesar da confusão que parece, a ideia central é super simples: Aves são répteis! Mas espera aí? Aves não são… aves? Tipo, passarinho, pena, voo e esse tipo de coisa? Sim! Mas nem por isso deixam de ser répteis! Vamos lá tentar explicar.
A verdadeira confusão está no fato que, a forma em que identificamos e classificamos os organismos (conhecido como sistemática), mudou várias vezes durante os anos. O termo “réptil” que temos na nossa mente são aqueles organismos com escamas e que precisam de calor pra se aquecer (ectotermia), alguns com cascos (tartarugas, cágados e jabutis), alguns sem patas (serpentes e alguns lagartos) e por aí vai (Fig. 1).
Pois bem, não é de hoje que esse termo está cientificamente em desuso. Não totalmente, dado a maneira simples de se trabalhar e o uso no cotidiano, mas na sistemática que temos hoje, o termo “réptil” abrange também as aves. Esse “réptil” que temos em mente pertence a uma antiga classificação que foi proposta por Carolus Linnaeus (Carol Lineu ou somente “Lineu”) em 1735 no seu trabalho intitulado “Systema naturae” onde ele propunha o agrupamento dos seres vivos de acordo com suas características como a morfologia externa. Por conta disso, “répteis” e aves ficaram em grupos separados, por serem – a princípio – visualmente bem diferentes.
Hoje, de acordo com a classificação filogenética, tartarugas (e seus similares), crocodilos, lagartos, dinossauros (e seus similares), serpentes e as Aves(!) compartilham o mesmo ancestral basal em comum: Reptilia! (Fig. 2). Com base nas aves viventes é difícil se perceber isso, pois muito tempo se passou desde que divergiram do ancestral, daí muitas especializações mascaram esse parentesco, entretanto, se você observar bem o Archaepteryx lithographica (Fig. 3), um fóssil do período Jurássico do que hoje é a Alemanha, conhecido com “a primeira ave”, notará várias semelhanças para com os répteis como a presença de dentes, a cauda longa com várias vértebras, duas fenestrações (orifícios) no crânio na região atrás do olho, pescoço em “S” (presente nos dinossauros), dentre outras características. O famoso Thomas Huxley (1825-1895), já havia dito bem antes que as aves eram “répteis glorificados”, pela incrível semelhança e o fato de voarem. O voo por si já havia aparecido antes no pterossauros! E hoje acredita-se que as penas tenham surgido a partir de uma modificação das escamas! Incrível não?
Pois bem, ainda vai precisar de bastante tempo até que isso – ave ser réptil – venha a ser uma concepção geral, uma vez que a classificação proposta por Lineu serviu historicamente por vários anos e por isso permitiu fixar-se até hoje os dias atuais. Todavia, essa concepção filogenética já é factual e bem esclarecida cientificamente. Talvez o fato de afirmarmos que o grupo vivente mais próximo às aves são os crocodilos, ou mesmo que as aves nada mais são que dinossauros voadores, seja ainda uma afirmação ainda mais bombástica!
Mas isso é uma conversa para outro post, por hoje já está de bom tamanho. Espero que tenham gostado.
Até a próxima,
Abraços.
Por: Heideger L. do Nascimento
Mestrando em Ecologia e Evolução – UERJ
Laboratório de Ecologia de Aves – IBRAG/UERJ
Filed under: LAGARTOS, Parece mas não é, QUELÔNIOS (Tartarugas, Cágados e Jabutis), SERPENTES |
Quanto as aves serem répteis, tudo bem. Mas colocar salamandra no meio dos répteis, para mim é uma grande novidade.
É isso mesmo?
Olá Jonas Filho,
Desculpe o equívoco, o erro no título já está corrigido.
Obrigado pela contribuição.
Abraço!
Caro Jonas,
Reforçando as palavras do Luantpinheiro:
Reconhecemos o equívoco e agradecemos a leitura atenta que apontou o erro, estranhamente por vezes o óbvio nos passa desapercebido. Pode estar certo de que o acontecimento vai colaborar para melhorarmos ainda mais o nosso blog.
Att.,
C.
Eu comentei sem intenção de criticar. Acompanho o blog de vocês e o indico aos meus alunos aqui de Natal-RN.
Aproveito para sugerir uma matéria para esclarecer a sistemática (classes, especialmente) dos répteis, pois em livros do ensino médio ela não é nada clara.
Jonas, é ótimo saber que contamos com leitores que seguem o blog como você. É ótimo receber esse tipo de retorno, pessoas que acabam colaborando muito para o blog através de pequenos toques como esse que você nos deu, pesando-se o tom cordial do apontamento do erro. Já anotamos a sugestão que nos deu para uma postagem!
Mais uma vez obrigado e seja sempre muito bem vindo ao blog!
C.
Equipe NnN
e viva Willi Hennig! A ideia de que aves são dinossauros, apesar de ser bem antiga, precisou de fósseis que só faltavam gritar EI, AVE É DINOSSAURO!
mas, já que tocaram nesse assunto, que tal extrapolar um pouco e perceber que baleias são peixes? 🙂
aproveitando pra divulgar um post correlato: http://vertebrata.wordpress.com/2010/01/26/de-megalosaurus-a-microraptor-a-historia-da-hipotese-teropode-para-a-origem-das-aves/
[…] presos a um tipo pré-concebido. No entanto, lendo os textos de meus amigos Júlio Saraiva e Heideger Nascimento, me peguei pensando se este pensamento está, realmente, ausente na obra destes autores e já faz […]
Ficou bem explicado!
Quais as características que permitiu vocês afirmarem que os répteis são um grupo monofilético?? Apreendi no curso de biologia que eles não são monofilético.
Oi Emanuel,
A afirmação feita no texto que “Répteis” é um grupo monofilético foi devida à inclusão das Aves neste grupo, está certo que o termo mais apropriado é Sauropsida (Táxon que inclui Anapsida (Quelônios), Squamata (Serpentes e “lagartos”) e Archossauria (Crocodilos, “dinossauros” e Aves)), mas como o texto tem um caráter de divulgação científica, o uso do termo “répteis” ainda é mais compreendido pela população em geral. Mesmo assim, muito obrigado pela observação! Caso tenha alguma observação adicional, sinta-se a vontade para comentar!
Atenciosamente,
[…] Sobre a comparação entre crocodilos e aves, confira: Répteis: Dinossauros, Lagartos, Serpentes, Tartarugas, Crocodilos e … e … e … Aves? […]
Muito bom !
Gostei. Muito útil
Obrigado pela participação, Aline.
A Equipe Nurof Nas Nuvens agradece!
Obrigada pelo post, bem claro e fácil de ler. Obrigada pelo serviço de divulgação dessas informações! 👍
Olá amigo, ótimo texto informativo, mas fiquei com uma duvida, eu pensava que répeteis modernos como crocodilos e jacarés, iguanas, e lagartos em geral, haviam evoluido independentemente e paralelamente aos dinossauros, sendo que eles já existiam na época dos dinossauros. No caso formaram duas filogenias, os dinos evoluiram para as aves, e esses répteis continuaram existindo. Abraço.