Répteis: Dinossauros, Lagartos, Serpentes, Tartarugas, Crocodilos e … e … e … Aves?


Apesar da confusão que parece, a ideia central é super simples: Aves são répteis! Mas espera aí? Aves não são… aves? Tipo, passarinho, pena, voo e esse tipo de coisa? Sim! Mas nem por isso deixam de ser répteis! Vamos lá tentar explicar.

A verdadeira confusão está no fato que, a forma em que identificamos e classificamos os organismos (conhecido como sistemática), mudou várias vezes durante os anos. O termo “réptil” que temos na nossa mente são aqueles organismos com escamas e que precisam de calor pra se aquecer (ectotermia), alguns com cascos (tartarugas, cágados e jabutis), alguns sem patas (serpentes e alguns lagartos) e por aí vai (Fig. 1).

Figura 1: “Calango” Tropidurus hispidus em sua posição típica. Arquivo pessoal Heideger Nascimento

Pois bem, não é de hoje que esse termo está cientificamente em desuso. Não totalmente, dado a maneira simples de se trabalhar e o uso no cotidiano, mas na sistemática que temos hoje, o termo “réptil” abrange também as aves. Esse “réptil” que temos em mente pertence a uma antiga classificação que foi proposta por Carolus Linnaeus (Carol Lineu ou somente “Lineu”) em 1735 no seu trabalho intitulado “Systema naturae” onde ele propunha o agrupamento dos seres vivos de acordo com suas características como a morfologia externa. Por conta disso, “répteis” e aves ficaram em grupos separados, por serem – a princípio – visualmente bem diferentes.

Figura 2: Cladograma filogenético mostrando a posição das aves dentro de reptília. “Filogenia como base para a investigação da diversidade biológica; http://biofecunda.files.wordpress.com/2008/10/reptilia.jpg, acessado em 02/06/2012”

Hoje, de acordo com a classificação filogenética, tartarugas (e seus similares), crocodilos, lagartos, dinossauros (e seus similares), serpentes e as Aves(!) compartilham o mesmo ancestral basal em comum: Reptilia! (Fig. 2). Com base nas aves viventes é difícil se perceber isso, pois muito tempo se passou desde que divergiram do ancestral, daí muitas especializações mascaram esse parentesco, entretanto, se você observar bem o Archaepteryx lithographica (Fig. 3), um fóssil do período Jurássico do que hoje é a Alemanha, conhecido com “a primeira ave”, notará várias semelhanças para com os répteis como a presença de dentes, a cauda longa com várias vértebras, duas fenestrações (orifícios) no crânio na região atrás do olho, pescoço em “S” (presente nos dinossauros), dentre outras características. O famoso Thomas Huxley (1825-1895), já havia dito bem antes que as aves eram “répteis glorificados”, pela incrível semelhança e o fato de voarem. O voo por si já havia aparecido antes no pterossauros! E hoje acredita-se que as penas tenham surgido a partir de uma modificação das escamas! Incrível não?

Figura 3: Foto do fóssil de Archaeopteryx lithographica. “Mesosoic Era; http://www.lvmnh.org/6.html, acessado em 02/06/2012”

Pois bem, ainda vai precisar de bastante tempo até que isso – ave ser réptil – venha a ser uma concepção geral, uma vez que a classificação proposta por Lineu serviu historicamente por vários anos e por isso permitiu fixar-se até hoje os dias atuais. Todavia, essa concepção filogenética já é factual e bem esclarecida cientificamente. Talvez o fato de afirmarmos que o grupo vivente mais próximo às aves são os crocodilos, ou mesmo que as aves nada mais são que dinossauros voadores, seja ainda uma afirmação ainda mais bombástica!

Mas isso é uma conversa para outro post,  por hoje já está de bom tamanho. Espero que tenham gostado.

Até a próxima,

Abraços.

Por:  Heideger L. do Nascimento

Mestrando em Ecologia e Evolução – UERJ

Laboratório de Ecologia de Aves – IBRAG/UERJ

16 Respostas

  1. Quanto as aves serem répteis, tudo bem. Mas colocar salamandra no meio dos répteis, para mim é uma grande novidade.

    É isso mesmo?

    • Olá Jonas Filho,

      Desculpe o equívoco, o erro no título já está corrigido.
      Obrigado pela contribuição.

      Abraço!

    • Caro Jonas,
      Reforçando as palavras do Luantpinheiro:
      Reconhecemos o equívoco e agradecemos a leitura atenta que apontou o erro, estranhamente por vezes o óbvio nos passa desapercebido. Pode estar certo de que o acontecimento vai colaborar para melhorarmos ainda mais o nosso blog.
      Att.,
      C.

      • Eu comentei sem intenção de criticar. Acompanho o blog de vocês e o indico aos meus alunos aqui de Natal-RN.

        Aproveito para sugerir uma matéria para esclarecer a sistemática (classes, especialmente) dos répteis, pois em livros do ensino médio ela não é nada clara.

      • Jonas, é ótimo saber que contamos com leitores que seguem o blog como você. É ótimo receber esse tipo de retorno, pessoas que acabam colaborando muito para o blog através de pequenos toques como esse que você nos deu, pesando-se o tom cordial do apontamento do erro. Já anotamos a sugestão que nos deu para uma postagem!
        Mais uma vez obrigado e seja sempre muito bem vindo ao blog!
        C.
        Equipe NnN

  2. e viva Willi Hennig! A ideia de que aves são dinossauros, apesar de ser bem antiga, precisou de fósseis que só faltavam gritar EI, AVE É DINOSSAURO!

    mas, já que tocaram nesse assunto, que tal extrapolar um pouco e perceber que baleias são peixes? 🙂

    aproveitando pra divulgar um post correlato: http://vertebrata.wordpress.com/2010/01/26/de-megalosaurus-a-microraptor-a-historia-da-hipotese-teropode-para-a-origem-das-aves/

  3. […] presos a um tipo pré-concebido. No entanto, lendo os textos de meus amigos Júlio Saraiva e Heideger Nascimento, me peguei pensando se este pensamento está, realmente, ausente na obra destes autores e já faz […]

  4. Ficou bem explicado!

  5. Quais as características que permitiu vocês afirmarem que os répteis são um grupo monofilético?? Apreendi no curso de biologia que eles não são monofilético.

    • Oi Emanuel,

      A afirmação feita no texto que “Répteis” é um grupo monofilético foi devida à inclusão das Aves neste grupo, está certo que o termo mais apropriado é Sauropsida (Táxon que inclui Anapsida (Quelônios), Squamata (Serpentes e “lagartos”) e Archossauria (Crocodilos, “dinossauros” e Aves)), mas como o texto tem um caráter de divulgação científica, o uso do termo “répteis” ainda é mais compreendido pela população em geral. Mesmo assim, muito obrigado pela observação! Caso tenha alguma observação adicional, sinta-se a vontade para comentar!

      Atenciosamente,

  6. […] Sobre a comparação entre crocodilos e aves, confira: Répteis: Dinossauros, Lagartos, Serpentes, Tartarugas, Crocodilos e … e … e … Aves? […]

  7. Gostei. Muito útil

  8. Obrigada pelo post, bem claro e fácil de ler. Obrigada pelo serviço de divulgação dessas informações! 👍

  9. Olá amigo, ótimo texto informativo, mas fiquei com uma duvida, eu pensava que répeteis modernos como crocodilos e jacarés, iguanas, e lagartos em geral, haviam evoluido independentemente e paralelamente aos dinossauros, sendo que eles já existiam na época dos dinossauros. No caso formaram duas filogenias, os dinos evoluiram para as aves, e esses répteis continuaram existindo. Abraço.

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